Saber receber e ser recebida

Tive a oportunidade de ser anfitriã, em abril, de um jantar de Pessach, do Instituto Brasil-Israel em parceria com a ONG Migraflix. Na ocasião recebemos, junto de amigos, Fátima – uma refugiada síria de origem curda – e sua família. 

Ontem foi a nossa vez de sermos convidados para um jantar na casa da Fátima.  Ela nos convidou diretamente para retribuir o jantar que o IBI proporcionou para a família dela. A noite foi bem emocionante. Durante a conversa foi impossível não pensar no meu avô Leizer e minha avó Rivka que imigraram para o Brasil, ainda antes da Segunda Guerra. As histórias sobre os desafios de reconstruir a vida, de bater de porta em porta, sem falar português, tentando começar seu próprio negócio. Os relatos da Fátima e do Abdul são muito parecidos com o que eu escuto da história dos meus avós: desconfiança, solidão e a saudade da família. Abdul não vê seus parentes  há 10 anos, desde quando saiu da Síria. Fátima está tentando trazer sua mãe para o Brasil “aqui o dinheiro é pouco, mas tem luz e água todos os dias”, disse. De novo me veio a imagem do meu avô que, pouco a pouco, foi trazendo os familiares: primeiro um irmão, depois um primo, mais um irmão. 

Na hora de servir o jantar eles ficaram nos olhando e disseram “podem fazer a oração de vocês, acreditamos que todos têm direito de ter sua crença”. Justo para nós, que não temos os costume de fazer orações.  Desejei saúde para nossas famílias e o baile seguiu. Ela fez comida curda, muito parecida com q árabe, com pequenas diferenças. Quando comentei que existia um exército de mulheres curdas na Síria, me disse “vim sozinha para o Brasil com 4 filhos e grávida da quinta. Nós não temos medo de nada”. Já o Abdul tirou um sarro que não oferecemos, na nossa casa, nenhuma bebida alcoólica para ele. “Sou muçulmano, mas gosto de um golinho de whisky antes de dormir”. 

Saímos de lá cheios de esperança e com um convite para todos do IBI: um churrasco de cordeiro no terraço da casa deles, assim que o tempo melhorar. Com cerveja porque, né, muçulmano, mas com direito a diversão. 

Queria agradecer à diretoria do IBI por ter incentivarem projetos que se tornam vínculos e vivências que ensinam todos os dias a desconstruir certezas. 

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