20 livros de Amós Oz traduzidos ao português

Morreu nesta sexta-feira, 28/12, o escritor e pacifista israelense Amos Oz. Autor de uma obra prolífica, tem inúmeros títulos traduzidos ao português, a maioria deles pela Companhia das Letras. O IBI reuniu a lista de livros traduzidos por essa editora.

1. MAIS DE UMA LUZ: Fanatismo, fé e convivência no século XXI (2017)
Amos Oz
Tradução: Paulo Geiger
Editora: Companhia das Letras

Com Mais de uma luz, o grande romancista Amós Oz se confirma também como um dos mais poderosos ensaístas da atualidade. O livro reúne três ensaios: no primeiro, Oz revê e amplia seu artigo clássico, “Como curar um fanático”, argumentando em defesa da controvérsia e da diferença. Afinal, um fanático nunca entra num debate: se ele considera que algo é ruim, seu dever é liquidar imediatamente aquela abominação. No segundo ensaio, inspirado no livro Os judeus e as palavras, o autor tece uma belíssima reflexão sobre o judaísmo como eterno jogo de interpretação, reinterpretação, contrainterpretação. A fé nada teria a ver com a ideia de verdades eternas ou absolutas; o judaísmo, para Oz, é justamente a cultura do questionamento – e do debate. O texto final discute a candente questão da convivência em uma das regiões mais disputadas do mundo. Oz propõe um diálogo com a esquerda pacifista, sugerindo que se abandone o sonho de um estado binacional como solução para os conflitos entre Israel e Palestina – a saída, para ele, estaria na existência de dois estados nacionais diferentes.

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2. 
COMO CURAR UM FANÁTICO: Israel e Palestina: entre o certo e o certo (2016)
Amos Oz
Tradução: Paulo Geiger
Editora: Companhia das Letras

O romancista Amós Oz cresceu na Jerusalém dividida pela guerra, testemunhando em primeira mão as consequências perniciosas do fanatismo. Em dois ensaios concisos e poderosos, o autor oferece uma visão única sobre a natureza do extremismo e propõe uma aproximação respeitosa e ponderada para solucionar o conflito entre Israel e Palestina. Ao final do livro há ainda uma contextualização ampla envolvendo a retirada de Israel da Faixa de Gaza, a morte de Yasser Arafat e a Guerra do Iraque.
A brilhante clareza desses ensaios, ao lado do senso de humor único do autor para iluminar questões graves, confere novo fôlego a esse antigo debate. Oz argumenta que o conflito entre Israel e Palestina não é uma guerra entre religiões, culturas ou mesmo tradições, mas, acima de tudo, uma disputa por território – e ela não será resolvida com maior compreensão, apenas com um doloroso compromisso.
Não se trata, argumenta Oz, de uma luta maniqueísta entre certo e errado, mas de uma tragédia no sentido mais antigo e preciso do termo: uma batalha entre o certo e o certo.
Sem temer a polêmica, o livro apresenta argumentos precisos favoráveis a uma solução que acomoda dois estados nacionais diferentes e também realiza um diagnóstico sutil sobre a natureza do fanatismo, calcada na predominância dos sentimentos sobre a reflexão.
Esclarecedor e inspirado, Como curar um fanático é uma voz de sanidade em meio à cacofonia das relações entre Israel e Palestina – voz que ninguém pode se dar ao luxo de ignorar.

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3. 
OS JUDEUS E AS PALAVRAS (2015)
Amós Oz e Fania Oz-Salzberger
Tradução: George Schlesinger
Editora: Companhia das Letras

Nesse livro que mistura narrativa e erudição, conversa e argumento, o romancista Amós Oz e sua filha, a historiadora Fania Oz-Salzberger, contam as histórias por trás dos nomes, dos textos, das disputas e dos adágios mais duradouros do judaísmo.
As palavras, eles argumentam, compõem o elo entre Abraão e os judeus de todas as gerações subsequentes.
Continuidade, mulheres, atemporalidade, individualismo – o rol de temas abordados é vasto. Oz e Oz-Salzberger revisitam personalidades judaicas através das eras, da suposta autora do Cântico dos Cânticos aos obscuros Talmudistas e autores contemporâneos.
Eles sugerem que a longevidade da cultura judaica, e até mesmo a singularidade do povo judeu, depende não apenas dos lugares, monumentos e personalidades heroicas ou rituais, mas da palavra escrita e do contínuo debate entre gerações.
Secularistas convictos, pai e filha deixam de lado o fervor religioso para extrair dos textos sagrados toda sua força de documento histórico, sua sonoridade poética e densidade literária.
Repleto de ensinamentos, lirismo e humor, Os judeus e as palavras oferece um passeio pela tradição judaica e estende a mão a qualquer leitor interessado em se juntar à conversa.

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4. 
JUDAS (2014)
Amós Oz
Tradução: Paulo Geiger
Editora: Companhia das Letras

Amós Oz é o mais importante escritor israelense da atualidade. Candidato constante ao prêmio Nobel, fez de sua obra uma reflexão profunda sobre o destino do povo judeu. Quais cicatrizes a história turbulenta do país deixou sobre seus habitantes? Que marcas imprime no indivíduo uma vida atravessada pela guerra? Há solução possível para um conflito que remonta a tempos imemoriais?
Judas é exemplo claro da densidade de sua obra. O protagonista é Shmuel Asch, um estudante que se vê em apuros no inverno de 1959: sua namorada o deixou, seus pais faliram e ele foi obrigado a abandonar os estudos na universidade e interromper sua pesquisa – um tratado sobre a figura de Jesus sob a ótica dos judeus.
Passado o desespero inicial, ele encontra morada e emprego numa antiga casa de pedra, situada num extremo de Jerusalém. Durante algumas horas diárias, sua função é servir de interlocutor para um velho inválido e perspicaz. Na mesma casa, vive uma mulher bonita e sensual chamada Atalia Abravanel, com quase o dobro de sua idade. Shmuel é atraído por ela, até que a curiosidade e o desejo transformam-se numa paixão sem futuro.
Neste romance cheio de lirismo, Amós Oz retorna ao cenário de alguns de seus livros mais apreciados, entre eles Meu Michel e De amor e trevas: a Jerusalém dividida em meados do século XX. Ao lado de seus personagens, Oz é corajoso o bastante para questionar o estabelecimento de um estado para os judeus, com suas consequentes guerras, e se pergunta se seria possível eleger um caminho histórico diferente.
Como lembra o ensaísta Alberto Manguel, neste livro Amós Oz revolve, com profunda inteligência e paixão, o coração da tragédia palestina.
“Mais uma vez, Oz nos dá uma absoluta, necessária obra-prima.” – Alberto Manguel

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5. 
O MESMO MAR (EDIÇÃO DE BOLSO) (2014)
Amós Oz
Tradução: Milton Lando
Editora: Companhia das Letras

Neste romance introspectivo e poético, as guerras, como de hábito na literatura de Amós Oz, estão presentes. Aqui, contudo, elas não são guerras de quem pega em armas, mas guerras da intimidade. Exemplo disso é o próprio Oz, que no livro aparece no papel de um escritor e faz referência a uma tragédia pessoal: o suicídio de sua mãe, quando ele tinha doze anos.
A trama acompanha o entrelaçamento de triângulos amorosos. O principal deles gira em torno de Albert Danon, um viúvo sexagenário. Seu filho, Rico, após a morte da mãe, parte para o Tibete em busca de paz interior. Durante sua ausência, a namorada, Dita, aproxima-se do sogro idoso em busca de proteção, mas a relação acaba assumindo caminhos inesperados.
O mesmo mar surpreende antes de tudo pelo alto grau de elaboração literária, pela profusão e riqueza de suas formas. O enredo vai se revelando numa sequência de seções curtas, compostas às vezes no tom casual e ameno das conversas de todo dia, às vezes como parábola bíblica, fábula, sonho ou poema. O mundo em que vivem as personagens de Amós Oz é barulhento, mas o romance, paradoxalmente, cria um intimismo que convida os leitores a se concentrarem no que elas estão dizendo.

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6. 
ENTRE AMIGOS (2014)
Amós Oz
Tradução: Paulo Geiger
Editora: Companhia das Letras

Composto de oito histórias interligadas, este livro inédito de Amós Oz recria com precisão a realidade de um kibutz. Durante os anos 1950, no kibutz Ikhat, vizinho de uma antiga aldeia árabe então abandonada, israelenses de diferentes origens e idades partilham um cotidiano de trabalho árduo e dedicado.
O livro tem início com o solitário Tzvi Provizor, que se ocupa diligentemente dos jardins do kibutz, mas no tempo livre escuta o rádio e espalha com especial prazer notícias de tragédias e calamidades. E termina com os últimos dias do velho sobrevivente do Holocausto Martin Vanderberg, que acredita na abolição de todos os estados nacionais e numa fraternidade mundial e pacifista, coroada pelo uso do esperanto como idioma comum a todas as pessoas.
Neste engenhoso conjunto de narrativas interligadas, em que os personagens ora protagonizam uma história, ora aparecem de relance na próxima, Amós Oz elege a fronteira como espaço privilegiado: entre o conto e o romance, entre duas gerações, entre o desejo de se decidir o próprio futuro e a missão de perpetuar um povo e sua cultura.
Nos limites do público e do privado, que a vida num kibutz torna difíceis de identificar, o arranjo particular de uma comunidade serve de palco para o desenrolar de dramas universais. Ao início de cada história, experimenta-se o pioneirismo, mas também a sensação de retorno ao conhecido que acompanha cada personagem nos anos que se seguem à fundação de seu país. Para cada passo que se dá em direção ao novo, um elemento familiar é generosamente oferecido por Amós Oz, para quem o ímpeto de inaugurar convive lado a lado com a tradição a ser mantida.
O autor busca o equilíbrio e pontua com trechos líricos uma narrativa seca, desprovida de excessos, porém rica em detalhes e simbologias, na qual tudo tem serventia.

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7. 
O MONTE DO MAU CONSELHO (2011)
Amós Oz
Tradução: Paulo Geiger
Editora: Companhia das Letras

Entrecruzando dados autobiográficos, personagens da “grande” história e as vidas de pessoas comuns, Amós Oz recria, em O monte do Mau Conselho, a sua infância em Jerusalém, entre tantos outros filhos de imigrantes asquenazes. Flagrados entre os anos de 1946 e 1947, meninos de nomes hebraicos convivem com as feridas mal curadas de seus pais, que têm de assimilar o desligamento das raízes europeias.
Se uma das vertentes do sionismo agudizou nos judeus a recusa de seu passado, os cheiros, as cores e as línguas ouvidas nos bairros judaicos expõem à luz do sol o fato de que a Europa não tem como ser uma página virada, o que aliás é enunciado, lapidarmente e em alemão, por uma mulher árabe: “Vocês estão, há quarenta anos, saindo da Europa em direção à Palestina. Não chegarão jamais. Durante esse mesmo tempo nós estamos indo do deserto para a Europa, e nós tampouco chegaremos”.
A madame Josette al-Bishari frisa, categórica, que árabes e judeus não poderão se encontrar em algum ponto no meio do caminho, ao passo que Amós Oz parece escrever para afirmar a possibilidade desse encontro.

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8. 
UMA CERTA PAZ (2010)
Amós Oz
Tradução: Paulo Geiger
Editora: Companhia das Letras

No inverno de 1965, Ionatan Lifschitz resolveu abandonar sua mulher e o kibutz onde nascera e crescera. Decidiu sair e começar uma vida nova. No entanto, a saída de Ionatan não se concretiza assim tão facilmente. Filho de Iulek, o líder da comunidade, sua insatisfação é contraposta à esperança que marcou a geração anterior. Os dilemas de Ionatan se agravam quando chega ao kibutz o sonhador Azaria Guitlin. Conversador, sempre repleto de opiniões, apaixonado pela ideia de um mundo justo, Azaria Guitlin é a antítese de Ionatan. Entre os dois se forma uma estranha amizade, que se torna ainda mais confusa quando Azaria se muda para a residência dos Lifschitz e se interessa por Rimona, a esposa que Ionatan negligencia e trata com desdém.
As difíceis relações familiares são a tônica desta obra de Amós Oz, que leva para o seio familiar as contradições e dificuldades políticas que o Estado de Israel enfrentava nos anos 1960, às vésperas da Guerra dos Seis Dias. Mais do que um retrato histórico, porém, Uma certa paz se revela uma meditação sobre o poder, a decepção e os relacionamentos amorosos. O talento de Oz está em não privilegiar um único ponto de vista. Pelo contrário, dá voz aos pensamentos das suas personagens, por mais rígidos e chocantes que sejam.
“A obra mais poderosa de Amós Oz.” – The New York Times Book Review

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9. 
CENAS DA VIDA NA ALDEIA (2009)
Amós Oz
Tradução: Paulo Geiger
Editora: Companhia das Letras

Em uma aldeia centenária – o que em Israel significa quase pré-histórica -, entre o fim do verão e o início do inverno, histórias diferentes se desenrolam paralelas, enquanto seus protagonistas se cruzam transversalmente como figurantes em histórias alheias.
No cenário, recorrentes ciprestes esguios e escuros, a beleza campestre de uma Toscana israelense, o tórrido calor das tardes de verão, as primeiras chuvas e tempestades do inverno, chacais e cães em duelo orfeônico nas noites, as mesmas ruas, as mesmas praças, os mesmos pontos de referência, plácidos em sua imobilidade de guardiães de rotinas cotidianas, de doces e amargas reminiscências, do amor e do desespero, de mistérios, de personagens surpreendentes e efêmeros que surgem do nada e nele desaparecem, ou de pessoas com raízes firmes que somem sem deixar rastro. O trivial e o insólito se cruzam tal como os personagens, eles mesmos testemunhas da aventura do viver.

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10. 
RIMAS DA VIDA E DA MORTE (2008)
Amós Oz
Tradução: Paulo Geiger
Editora: Companhia das Letras

Um romancista medianamente famoso se prepara para dar uma palestra e participar de um debate sobre sua obra num centro cultural de bairro, em Tel Aviv. Enquanto faz hora num café, passa a imaginar uma história para cada indivíduo que vê à sua volta. A atraente garçonete que o serve, por exemplo, vira ex-namorada do goleiro reserva do time de futebol Bnei Iehudá. Dois homens que conversam numa mesa próxima se convertem, na sua fantasia, em mafiosos discutindo a situação de um terceiro homem, um ricaço que agora definha na UTI de um hospital.
A compulsão ficcional do escritor prossegue durante e após a palestra, resultando numa teia de histórias imaginárias que começam a se embaralhar com a trajetória do protagonista, a ponto de não sabermos, por exemplo, se ele foi ou não para a cama com a moça solitária que leu para o público trechos de suas obras no evento do centro cultural.
Ficção e realidade se confundem nesta narrativa singular e envolvente, cujo próprio título, Rimas da vida e da morte, é tirado do livro fictício de um autor também inventado, o poeta Tsefania Beit-Halachmi, cujos versos o protagonista e outros personagens vivem citando.
Com discrição e astúcia, Amós Oz parece nos dizer que por trás de cada indivíduo anônimo existe um manancial de dramas e comédias possíveis. Na sua dicção calorosa, de conversa íntima com o leitor, o autor israelense reafirma sua crença na literatura de imaginação como meio de conhecimento e de superação da distância entre os homens.

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11. 
A CAIXA-PRETA (EDIÇÃO DE BOLSO) (2007)
Amós Oz
Editora: Companhia das Letras

Que segredos pode conter a caixa preta de um avião que caiu? Revelações sobre as razões da queda, gritos de horror, pânico, tentativas desesperadas de salvação: vestígios da catástrofe. O romance do israelense Amós Oz tem tudo isso, mas a caixa preta a que se refere o título não pertence a um avião, e sim a uma relação amorosa desfeita. Anos depois do divórcio escandaloso, a esposa rejeitada Ilana emerge das cinzas do tempo, da distância e do rancor para passar a limpo seu casamento com Alex Guideon, professor e escritor mundialmente famoso.Com dinheiro, Alex tenta silenciar o passado que sangra. Mas as coisas mudaram. Entre ele e a ex-mulher, agora há também Boaz, filho dos dois, explodindo de juventude e violência, e Michel Sommo, o novo marido de Ilana, burocrata medíocre e fanático religioso. Todas essas vozes, com suas melodias diversas, matizadas às vezes pelos tons mais sombrios da sexualidade (ninfomania, sadomasoquismo, voyeurismo), são brilhantemente orquestradas pelo autor, que aqui se vale da clássica forma do romance epistolar. As várias primeiras pessoas revelam-se por si mesmas, em secos telegramas, bilhetes mal escritos ou longas cartas.Ao mesmo tempo, por trás de paixões pessoais tão intensas que beiram a loucura, desenha-se com precisão o complexo panorama social, religioso e político da vida em Israel nos últimos anos. Fortemente erótico, mas também engraçado e poético, A caixa preta só revela aos poucos sua sabedoria mais funda e amarga: somente a proximidade da morte e a consciência da finitude do corpo podem apaziguar as paixões. Aquilo que parecia apenas uma enlameada rede de intrigas, por meio da solidariedade que lentamente une essas personagens desgraçadas, reveste o livro de uma terrível dignidade. Além de ser inesquecível, este romance conquista algo raro – grandeza humana.

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12.
DE REPENTE NAS PROFUNDEZAS DO BOSQUE (2007)
Amós Oz
Tradução: Tova Sender
Editora: Companhia das Letras (Seguinte)

Uma pequena aldeia atravessada por um rio cristalino e rodeada por um bosque frondoso tem uma particularidade insólita: não há nela nem um único animal. Nem animais domésticos, nem silvestres; nem peixes, nem aves; nem mesmo insetos de qualquer espécie perturbam a monotonia da vida dos aldeões.
Mas dois garotos, Mati e sua amiga Maia, não se conformam com os rodeios e as histórias mal contadas dos adultos e resolvem investigar por conta própria, desafiando a proibição de entrar no bosque, onde reina o temível Nehi, o demônio das montanhas. Depois dessa aventura, nenhum dos dois será mais o mesmo – nem a aldeia.
Numa linguagem desenvolta, plena de humor e sutileza, Oz nos envolve num universo assombroso e fascinante, exaltando o poder do conhecimento, da independência de espírito e da ética pessoal contra as idéias feitas que perpetuam a discriminação, a intolerância, a opressão. Não há, portanto, solução de continuidade entre a empenhada literatura “adulta” do escritor e esta que ele definiu apropriadamente como “uma fábula para todas as idades”.

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13. 
DE AMOR E TREVAS (2005)
Amós Oz
Tradução: Milton Lando
Editora: Companhia das Letras

Entre a autobiografia e o romance, De amor e trevas é a extraordinária recriação dos caminhos percorridos por Israel no século XX, da diáspora à fundação de uma nação e de uma língua: o hebraico moderno. É também uma reflexão sobre a história do sionismo e a criação de Israel como necessidade histórica de um povo confrontado com a ameaça de extinção.
Ganhador do Prêmio France Culture de 2004 e do Prêmio Goethe do mesmo ano, o livro extrai sua grandeza da simplicidade de um gesto narrativo que faz do olhar de um menino o fio condutor de uma história vigorosa e bela da constituição da identidade de um garoto e uma nação. Essa confluência é sintetizada em cenas que marcaram a memória do escritor, como a da multidão que ouve pelo rádio, numa praça de Jerusalém, a votação da ONU que determinou a criação do Estado de Israel – cenas que se imprimem na mente do leitor com uma notável força narrativa.
Confrontado com o suicídio da mãe aos doze anos, três anos depois Oz declara sua independência e volta as costas para o mundo em que crescera a fim de assumir uma nova identidade num novo lugar: o kibutz Hulda, na fronteira com o mundo árabe.
“Provavelmente a obra literária mais vendida na história de Israel […]. É um dos livros mais engraçados, trágicos e comoventes que já li.” – Linda Grant, The Guardian

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14. 
MEU MICHEL (2002)
Amós Oz
Tradução: Milton Lando
Editora: Companhia das Letras

Em 1998, quando Amós Oz recebeu o Prêmio Nacional de Literatura de Israel, uma ala da direita israelense apresentou queixa num tribunal, alegando que os textos escritos por ele provocavam dor. O que se pode fazer contra a dor que um texto é capaz de provocar? À parte as implicações políticas locais, esse episódio que comporta algo de grotesco apenas confirmou a força da literatura de Oz.
Lançado em Israel em 1968 e reeditado agora no Brasil com nova tradução, Meu Michel é o retrato magistral de uma mulher que desliza lentamente para a névoa do delírio esquizofrênico, na Jerusalém da década de 1960.
A protagonista, Hana Gonen, trinta anos, é casada com um geólogo calmo, trabalhador, sensível – o “meu Michel” -, um bom cidadão que, ao contrário da mulher, se recusa a estender seus sonhos para além da linha do despertar. Para Michel, o tempo presente é a matéria dócil com a qual se deve moldar o futuro. Já Hana se apega à memória e às palavras como quem se agarra a um parapeito num lugar muito alto. Com o passar do tempo, como uma ravina no deserto – tema da tese de doutorado de Michel -, a fenda entre os dois se alarga. Abandonada aos próprios pensamentos, girando em volta de si mesma, Hana deixa de ter o mundo exterior como referência. Os contornos se borram. Schízo – em grego, “cisão”, “separação” – é o termo para esse desgarrar-se da realidade, para o delírio que aos poucos cresce dentro dela como uma planta exuberante, feita do desencontro assustador e doloroso entre atos, desejos, memória e palavra.

15. 
O MESMO MAR (2001)
Amós Oz
Tradução: Milton Lando
Editora: Companhia das Letras

A turbulência política de Israel surge constantemente na literatura de Amós Oz, mas não em O mesmo mar. Neste romance introspectivo e poético, as guerras existem, mas são guerras da intimidade – como a do próprio Oz, que no livro aparece no papel de um escritor e faz referência a uma tragédia pessoal: o suicídio de sua mãe, quando ele tinha doze anos. A certa altura da narrativa, uma mulher jovem vai lhe dizer que há algo de ridículo num homem que há 45 anos está de luto pela mãe. O autor, entretanto, é uma personagem a mais, e o vigor do romance evidentemente não se vincula a essa exposição autobiográfica direta.
O mesmo mar surpreende antes de tudo pelo alto grau de elaboração literária, pela profusão e riqueza de suas formas. O enredo vai se revelando numa seqüência de seções curtas, compostas às vezes no tom casual e ameno das conversas de todo dia, às vezes como parábola bíblica, fábula, sonho ou poema. O mundo em que vivem as personagens de Amós Oz é barulhento, mas o romance, paradoxalmente, cria um intimismo que convida os leitores a se concentrar no que elas estão dizendo.

16. 
PANTERA NO PORÃO (1999)
Amós Oz
Tradução: Isa Mara Lando e Milton Lando
Editora: Companhia das Letras

Pantera no porão, livro marcadamente autobiográfico, conduz o leitor à Jerusalém de 1947, às vésperas do fim da ocupação britânica e da criação do Estado de Israel. O protagonista é um garoto judeu de doze anos, filho de imigrantes poloneses, chamado de Prófi (diminutivo de professor) devido a sua obsessão pelas palavras.
Uma noite, surpreendido na rua após o toque de recolher, Prófi conhece o sargento britânico Dunlop, um amante das tradições judaicas que fala um hebraico comicamente arcaico. Os dois ficam amigos: Dunlop ensina inglês a Prófi, este lhe ensina hebraico moderno. Membro fundador da organização secreta LOM (Liberdade ou Morte), Prófi acredita poder extrair do amigo/inimigo importantes segredos estratégicos. Mas os dois outros membros da organização, Ben Hur e Tchita Reznik, vêem a coisa de outro modo: picham a frase “Prófi é um traidor infame” na parede de sua casa e submetem-no a um julgamento sumário.
Ao mesmo tempo que fantasia inúmeros meios de limpar sua honra e ajudar Israel a vencer seus inimigos (os ingleses e os árabes, antes de tudo), Prófi se vê às voltas com sentimentos confusos pela irmã mais velha de Ben Hur, Yardena, que um dia ele viu nua pela janela, sem querer.
Narrado retrospectivamente pelo protagonista já adulto, Pantera no porão não apenas reconstitui a vida cotidiana em Jerusalém num momento crucial da história de Israel, como também capta o delicado e inefável momento da passagem da infância à idade adulta, no qual a fronteira entre a fantasia e a realidade ainda não está totalmente delineada.
Numa prosa leve, envolvente e bem-humorada, Amós Oz põe em discussão conceitos como traição e lealdade e exalta a compreensão humana acima dos conflitos étnicos, nacionais e religiosos.
Em tempo: o título do livro refere-se a um filme norte-americano imaginário, Panther in the basement, citado pelo narrador-protagonista, que utiliza, em diferentes contextos, a imagem da pantera no porão como símbolo de uma força contida prestes a explodir. Serve tanto para a resistência armada israelense como para a sexualidade adolescente.

17. 
NÃO DIGA NOITE (1997)
Amós Oz
Tradução: George Schlesinger
Editora: Companhia das Letras

Entre meias palavras e palavras não ditas, Teo e Noa conversam sobre o dia-a-dia, num diálogo pontuado pelo cansaço dos anos de convivência. Ao procurar o sentido que se esconde e se revela em cada frase, o casal tenta se decifrar num curioso jogo em que uma palavra pode significar seu oposto. Passando do cômico ao trágico sem qualquer reviravolta dramática, Amós Oz transforma a relação entre os dois amantes numa narrativa sutil que surpreende pelo modo como são vistos os acontecimentos mais banais.
Amós Oz é considerado o melhor escritor israelense contemporâneo.

18. 
FIMA (1996)
Amós Oz
Tradução: George Schlesinger
Editora: Companhia das Letras

Fima vive em Jerusalém, mas acha que deveria estar em outro lugar. Ao longo de sua vida, teve diversos amores, foi um jovem poeta promissor, meditou acerca do sentido do universo, polemizou sobre os descaminhos de Israel, elaborou uma fantasia detalhada sobre a criação de um novo movimento político e sentiu a ânsia constante de abrir um novo capítulo em sua vida. E ei-lo agora, aos 54 anos, em seu apartamento imundo, numa manhã cinzenta e úmida, travando uma batalha humilhante para soltar a ponta de sua camisa presa no zíper da calça.
Com graça, agudeza e conhecimento profundo da alma humana, Amós Oz traça o retrato de um homem e de uma geração que teve sonhos nobres e generosos, mas é incapaz de fazer alguma coisa.

19. 
A CAIXA PRETA (1993)
Amós Oz
Tradução: Nancy Rozenchan
Editora: Companhia das Letras

Que segredos pode conter a caixa preta de um avião que caiu? Revelações sobre as razões da queda, gritos de horror, pânico, tentativas desesperadas de salvação: vestígios da catástrofe. O romance do israelense Amós Oz tem tudo isso, mas a caixa preta a que se refere o título não pertence a um avião, e sim a uma relação amorosa desfeita. Anos depois do divórcio escandaloso, a esposa rejeitada Ilana emerge das cinzas do tempo, da distância e do rancor para passar a limpo seu casamento com Alex Guideon, professor e escritor mundialmente famoso.
Com dinheiro, Alex tenta silenciar o passado que sangra. Mas as coisas mudaram. Entre ele e a ex-mulher, agora há também Boaz, filho dos dois, explodindo de juventude e violência, e Michel Sommo, o novo marido de Ilana, burocrata medíocre e fanático religioso. Todas essas vozes, com suas melodias diversas, matizadas às vezes pelos tons mais sombrios da sexualidade (ninfomania, sadomasoquismo, voyeurismo), são brilhantemente orquestradas pelo autor, que aqui se vale da clássica forma do romance epistolar. As várias primeiras pessoas revelam-se por si mesmas, em secos telegramas, bilhetes mal escritos ou longas cartas.
Ao mesmo tempo, por trás de paixões pessoais tão intensas que beiram a loucura, desenha-se com precisão o complexo panorama social, religioso e político da vida em Israel nos últimos anos. Fortemente erótico, mas também engraçado e poético, A caixa preta só revela aos poucos sua sabedoria mais funda e amarga: somente a proximidade da morte e a consciência da finitude do corpo podem apaziguar as paixões. Aquilo que parecia apenas uma enlameada rede de intrigas, por meio da solidariedade que lentamente une essas personagens desgraçadas, reveste o livro de uma terrível dignidade. Além de ser inesquecível, este romance conquista algo raro – grandeza humana.

20. 
CONHECER UMA MULHER (1992)
Amós Oz
Tradução: Nancy Rozenchan
Editora: Companhia das Letras

Conhecer uma mulher, de Amós Oz, o mais importante escritor israelense contemporâneo, lança um olhar atento e sensível sobre os mistérios que, escondidos em cada um de nós, unem e separam as pessoas.
Depois de trabalhar para o serviço de informações por 23 anos, o agente secreto Yoel Ravid passa em revista sua vida profissional e familiar. Afastado do serviço, ao tentar entender a nova ordem de enigmas surgida de seu convívio com o cotidiano da vida familiar, Yoel vê desmoronar suas táticas profissionais. Diante da trágica morte da esposa, procura compreender a mulher que, apesar de amar, ele nunca conheceu completamente; com ela travou durante anos uma batalha subterrânea cujos motivos também lhe escapam. A história de Yoel, assim como a daqueles que o rodeiam – a filha epiléptica, a sensual vizinha americana e seu irmão voyeur, o corretor de imóveis Krantz, a moça de Bancoc -, está repleta de enigmas, de pontos em suspenso que, como uma linguagem em código, exigem decifração.
Numa prosa marcada pelo equilíbrio entre concisão e expressividade, Amós Oz traça as linhas que fazem do passado e do presente matéria de uma contínua reflexão e ponto de partida para a descoberta de novas possibilidades de conduta. A trajetória de Yoel Ravid, que tem aproximadamente a mesma idade do Estado de Israel, pode ser lida como uma sutil alegoria da situação política israelense, que, convivendo com ameaças constantes, deve encontrar em meio aos conflitos as interpretações e respostas mais adequadas para instaurar uma nova ordem regional. Conhecer uma mulher é, assim, um romance arquitetado com rara versatilidade: história de detetive entrelaçada a uma aventura doméstica e existencialista, que põe o conhecimento de si mesmo e do outro como a mais premente missão.
Conhecer uma mulher foi lançado em Israel e publicado nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França, Espanha, Holanda, Itália, Portugal, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Grécia, Hungria e Polônia.

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