É preciso falar sobre antissemitismo no Brasil

Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos mostraram que ataques antissemitas mais do que quadruplicaram no primeiro semestre de 2021 em relação aos seis meses anteriores.
Cara leitora,
Caro leitor, 

No último domingo, dia 22, a comunidade da escola Eliezer Max no Rio de Janeiro, em parceria com a ARI (Associação Religiosa Israelita), realizava uma cerimônia de prece e homenagem virtual à ex-diretora Dora Fraifeld, que falecera na semana anterior, quando foi surpreendida por uma invasão de perfis nazistas ao link do evento.
 
Este não é um fato isolado. A ele se somam muitos outros, como o discurso do pastor Tupirani da Hora Lores, no qual pregava um novo holocausto, ou a distribuição de panfletos na Barra da Tijuca, também no Rio de Janeiro, engrossando as preocupantes estatísticas que dão conta da crescente escalada de ataques antissemitas no Brasil.
 
Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos mostraram que ataques antissemitas mais do que quadruplicaram no primeiro semestre de 2021 em relação aos seis meses anteriores. Não bastasse, de 2015 a 2021, o número de células neonazistas saltou de 75 para 530. Um estudo da Anti-Defamation League mostrou que o sentimento antijudaico entre a população brasileira cresceu de 19% para 26%, de 2019 para 2020.
 
Na tentativa de compreender a complexidade deste fenômeno, o IBI tem fomentado uma série de atividades. Como o lançamento de um laboratório de estudos no âmbito acadêmico, dedicado a mapear e monitorar ataques antissemitas e neonazismo, dentro do contexto do projeto IBI no Campus.
 
A antropóloga Adriana Dias, que recentemente encontrou elos entre sites neonazistas e o gabinete do então deputado Jair Bolsonaro, divulgando-os em reportagem de grande repercussão, é quem encabeçará os trabalhos.
 
Adriana foi a entrevistada da vez no podcast “E eu com isso?”, em episódio apresentado por Anita Efraim e Amanda Hatzyrah. Explicou que as células nazistas que estuda não possuem um perfil único.
 
As motivações podem ser religiosas, políticas, e/ ou sociais. As inspirações vão de Ku Klux Klan a Ucrânia. Em comum, o discurso ensandecido e persecutório sobre supremacia branca.
 
Adriana também toca em outro ponto sensível, sobre a necessidade de se reforçar a legislação que proíbe a disseminação deste tipo de conteúdo e comportamento.
 
Por que esta escalada?
 
O historiador Michel Gherman, diretor acadêmico do IBI, e o sociológo Bernardo Sorj, autor de mais de 30 livros, ambos professores da UFRJ, protagonizaram um debate a respeito, promovido pelo Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil, com apoio do IBI.
 
É consenso que até o começo do novo milênio, havia uma baixa incidência de antissemitismo no país. Para Sorj, fomos entrando em uma espiral de destruição da cultura brasileira, até então associada à ideia de “país do futuro” difundida pelo escritor Stefan Zweig.
 
Gherman acrescentou: “Houve uma mudança radical da sociedade brasileira, na forma de lidar com seu passado. O negacionismo da ditadura, da escravidão e do holocausto, estabelece um passado branco monolítico não conflituoso, e que exclui os que desafiam essa perspectiva”.
 
O antissemitismo de extrema-direita é sintoma de uma cultura do ódio que sempre serviu como caldo para os regimes autoritários. Não é bom que este caldo esteja em fervura.

Enquanto isso… Polônia tenta reescrever seu passado
No país governado por Andrzej Duda, considerado um dos líderes mundiais populistas da nova onda ultranacionalista, uma nova lei, que restringe a restituição de bens roubados dos judeus poloneses antes ou durante o Holocausto, foi aprovada pelo Parlamento em Varsóvia. Entenda o caso no texto de Daniela KreschLeia
 
O incrível Salvador Barzellai
Salvador Barzellai, um dos brasileiros mais famosos de Israel, faleceu esta semana. “Salva”, como era conhecido, gravou versões em hebraico de músicas brasileiras que se tornaram hits em Israel, tendo depois se tornado um famoso comentarista de futebol no país. Sua história foi retratada nesta videoreportagem produzida por Daniela KreschVeja.

Mais medalhas!
Israel já conquistou três medalhas nos Jogos Paralímpicos de Tóquio – todas na natação. Iyad Shalabi Mark Malyar levaram o ouro. Ami Dadaon, a prata.

Mulher com mulher
Para celebrar o mês do orgulho lésbico, o Gaavah, coletivo judaico LGBTQIA+ do IBI, está promovendo a programação “Ishá im Ishá” (Mulher com Mulher). Ontem, foi realizado o debate “Experiências lésbicas na comunidade judaica brasileira“, com Hanna KorichJulia GutnikTamara Steiman e mediação de Caroline Beraja. Hoje, às 19h, será realizada uma homenagem a Rosely Roth, ativista lésbica, brasileira e judia, por ocasião dos 31 anos de sua morte. Confira o trabalho inédito de resgate de suas raízes judaicas. E amanhã, também às 19h, haverá um bate-papo com Tamar Glezerman, diretora do curta israelense “A outra guerra”. Acompanhe.

Judeu imaginário
Michel Gherman participou da III semana de cultura e pensamento judaicos do Centro Israelita do Rio Grande do Norte, abordando o tema “Judeu imaginário na política brasileira atual”. Veja.

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