Era pós-Merkel: A Alemanha continuará a ser o maior aliado de Israel na Europa?

Angela Merkel e Naftali Bennett
TEL AVIV – Como será o relacionamento entre Israel e Alemanha na era pós-Angela Merkel? A resposta é uma incógnita que os pesquisadores do Instituto Nacional de Estudos de Segurança (INSS), um dos mais importantes think tanks de Israel, tentam decifrar. A Alemanha é hoje, sem dúvida, o maior aliado de Israel na Europa. Em seus 15 anos no poder como líder do governo, Merkel deixou bem claro seu apoio a Israel – mesmo repetindo volta e meia o conhecido e morno argumento “a favor de uma solução de Dois Estados para dois povos”. 
Mas, como será a atitude do próximo governo alemão, mais à esquerda no espectro político? Será que o apoio alemão quase incondicional a Israel – fruto de um justificado sentimento de culpa pelo Holocausto – se manterá? Veremos um governo crítico às políticas de Israel em relação aos palestinos e à luta israelense contra o programa nuclear iraniano?
Em sua última viagem internacional como líder do governo alemão, Angela Merkel visitou Israel no domingo passado, dia 10 de outubro (aliás, Israel também foi o primeiro destino dela depois de tomar posse, em 2006). Ela se encontrou com o presidente de Israel, Isaac Herzog, e com o primeiro-ministro, Naftali Bennett, e visitou o Museu do Holocausto (Yad Vashem). Mas, além desses encontros oficiais, ela reservou uma hora para conversar a portas fechadas com os pesquisadores do INSS, entre eles o ex-embaixador de Israel na União Europeia e na Jordânia, Oded Eran. O ex-diplomata também foi vice-diretor geral do Ministério das Relações Exteriores e vice-chefe da embaixada israelense em Washington. 
Oded Eran contou, que Merkel afirmou que a Alemanha apoia Israel como um Estado Judeu e Democrático, e que isso não mudará com o próximo governo, qualquer que seja a coalizão. Mas, para o pesquisador, pode haver “nuances” nesse apoio. Segundo ele, 
as políticas básicas vão permanecer. Ou seja, o governo alemão vai continuar a apoiar Israel, principalmente em questões de segurança. “Mas nuances estarão de fato nessa questão da relação israelense-palestina”, diz Oded Eran. 
Quer dizer, o novo governo alemão talvez pressione um pouco mais o governo israelense – talvez por debaixo dos panos, talvez publicamente – a fazer algum progresso em direção a negociações com os palestinos.
O problema é que o governo Bennett não tem planos para realizar um acordo de paz abrangente com os palestinos, no momento. E isso é conhecido por todos. Afinal, a coalizão Naftali Bennett-Yair Lapid foi criada quase que exclusivamente para derrubar Benjamin Netanyahu do poder, com oito partidos de centro, direita e esquerda unidos nesse esforço. Mas, como esses partidos pensam diferente em relação à criação do Estado palestino, o acordo interno entre eles é de não lidar com assuntos profundos e complicados, neste momento.
“Acho que assim como Joe Biden indicou compreender que, neste momento, a situação não conduz a um acordo abrangente, o mesmo entendimento ou reconhecimento também está começando a infiltrar na Europa”, diz Oded Eran. 
Segundo o diretor do INSS, o novo governo alemão talvez tenha que dizer claramente, apesar da situação atual, que não abandonou a solução de Dois Estados e apoiando passos para preservar essa opção para algum momento no futuro. Talvez pressione o governo de Israel a dizer algo nesse sentido. Eran cita o recente plano de incentivo econômico que o chanceler Yair Lapid apresentou sobre a Faixa de Gaza como um passo nessa direção.
“Acho que o governo israelense, apesar de sua composição, pode sugerir maneiras de resolver de forma permanente, não apenas remendos aqui e ali, toda a questão da água para a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, da energia, do meio ambiente, da economia. Isso sem resolver a questão de Jerusalém ou as fronteiras finais”, diz Oded Eran.
O novo governo alemão vai enfrentar uma realidade que inclui uma mudança da opinião pública sobre Israel e um crescente antissemitismo. Há um distanciamento histórico das novas gerações em relação ao Holocausto e uma maior identificação com questões de direitos-humanos. A Segunda Guerra Mundial acabou há 76 anos e a Alemanha se responsabilizou e indenizou – indeniza até hoje – sobreviventes. 
“Merkel mencionou que está preocupada com o aumento do antissemitismo e disse ser necessário fazer mais para combatê-lo. Ela também mencionou a cooperação entre Alemanha e Israel no que diz respeito à informação, a serviços de Inteligência e sobre os movimentos e atividades antissemitas”, disse Oded Eran.
Mas a Alemanha de hoje não é a mesma de antes. A maioria dos alemães é formada por jovens com outra cabeça, que se sentem distantes dos acontecimentos do passado. Não se sentem “responsáveis” e não estão dispostos a dar “descontos” a Israel na questão palestina. Nesse sentido, Israel também teme que o novo governo alemão tome menos as dores de Israel no que tange a ameaça nuclear iraniana e o acordo nuclear JCPOA.
“Sobre a questão do Irã, Merkel indicou muito claramente que ela, na época em que o acordo foi negociado e concluído, achava que ele era falho. Mas pensava que era o melhor que poderia ser alcançado”, conta Oded Eran. “Ela afirmou que entende as preocupações de Israel, já que o país é o principal alvo de todas as atividades do Irã na região. E assegurou que todos os envolvidos nas negociações pensam o mesmo”, falou Oded Eran.
Mas não há dúvidas de que a intromissão do ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que convenceu o ex-presidente americano Donald Trump a se retirar do JCPOA em 2018, irritou as potências. 
“O que vimos depois de 2018, quando os Estados Unidos se retiraram, não é o que esperávamos. O fato é que agora o Irã está dando um salto muito além do que o JCPOA estipulou em termos de enriquecimento, de coleta de material, de outras atividades. Será, então, que as políticas adotadas desde 2018 nos colocaram em uma situação melhor? Acho que a resposta é muito clara: não”, completou Eran.

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