IBINews 199: A cantora mizrahi que saiu do armário

Em Israel, as músicas de Sarit Haddad sempre foram recitadas como hinos românticos entre os casais heterossexuais. Agora, ganham uma abordagem mais universal.

Com sua pegada pop, o gênero musical mizrahi, influenciado por um curioso cruzamento entre as músicas árabe, turca e grega, conquistou corações e mentes de uma enorme população em Israel. Trazido pelos judeus oriundos do Oriente Médio e do norte da África, o gênero, que literalmente traduzido, significa ‘oriental’, esteve sempre associado a valores mais conservadores e tradicionais.

Talvez por isso tenha chamado tanto a atenção, a divulgação do clipe “Um amor como o nosso”, em que a icônica artista Sarit Haddad se assumiu lésbica, cantando para uma mulher sentada a seu lado, enquanto trocam carinhos: “Não sou tocada do jeito que você me toca há anos; o que há dentro de mim não pode ser explicado nem por mil canções”.

As músicas de Sarit Haddad sempre foram recitadas como hinos românticos entre os casais heterossexuais. Com este clipe, ganham uma abordagem mais universal. E a boa notícia é que a maioria de seu público demonstrou apoio e carinho, nas redes sociais.

Como escreveu nossa correspondente Daniela Kresch, em artigo exclusivo para o IBI, a decisão de Sarit Haddad de “sair do armário” certamente espelha uma mudança de percepção do público mais conservador de Israel em relação à comunidade LGBTQIA+, mesmo que esse processo ainda esteja em andamento. “Sarit sentiu que já poderia parar de esconder seus relacionamentos. Isso é saudável para Israel em 2021”.

O clipe de Sarit vem na esteira de um importante direito conquistado recentemente. Em julho, a Suprema Corte de Israel liberou que casais homoafetivos tenham filhos por meio de um útero de substituição, encerrando uma batalha judicial de uma década travada por grupos ativistas dos direitos LGBTQIA+ no país. O procedimento consiste na doação temporária do útero por uma outra mulher, que durante os nove meses carrega o bebê dos pais biológicos. A barriga solidária já era permitida para casais heterossexuais e mulheres solteiras.

Mas nem tudo é arco-íris no país cuja maior cidade, Tel Aviv, é considerada capital gay do Oriente Médio, com 25% da população homossexual e uma famosa parada LGBTQIA+.

Como se sabe, não existe casamento civil em Israel; somente cerimônias religiosas. Portanto, casais gays que desejam casar-se precisam sair do país e validar a união posteriormente, na Justiça. O mesmo vale para casais interreligiosos.

Segundo o ativista israelense LGBTQIA+ Shai Doitsh, “os direitos são frágeis. Lutamos para transformá-los em leis. Mas é muito difícil, devido à bancada conservadora de direita no Parlamento, que tenta barrar qualquer iniciativa nesse sentido. Em Israel, não temos uma Constituição. Mas ao menos uma Corte Suprema que defende os direitos humanos”.

Pois o que importa é que em Israel ou no Brasil, ou qualquer parte do mundo, como bem lembrou o senador Fabiano Contarato (Rede), em uma espécie de desabafo na CPI da Covid nesta semana, orientação sexual não define o caráter.

Torá Viva

Recentemente, tivemos a passagem de Simchat Torá – quando se celebra o recomeço da leitura anual da Torá – e, com ela, a possibilidade de trazer novas interpretações para o texto sagrado, estimulando o conceito de “Torat Chayim”, uma Torá viva.

O quão necessária é e como acontece esta renovação do olhar para o texto sagrado? Principalmente quando a sociedade também se renova e a dignidade humana é, muitas vezes, posta em conflito com a tradição: como isso afeta as pessoas judias LGBTQIA+?

Para não deixar passar em branco esta ocasião reflexiva, os coletivos judaico-LGBTQIA+ brasileiros Gaavah, Hineni e MOV LGBTQIA+ se uniram para proporcionar um momento especial de aprendizado e conversa com a Rabina Tamara Chagas, da Congregação Israelita Paulista. A ideia é que as pessoas possam ter a oportunidade de avivar a conexão de suas identidades judaicas e LGBTQIA+ em um espaço intimista, amistoso e de total pertencimento.

O evento acontece nesta terça-feira (05/10), às 18h, pela plataforma Zoom. É necessário realizar uma inscrição prévia. Para participar, clique aqui.

Confira os destaques à última semana!

Estudos judaicos: Do dia 5 a 8 de outubro, o Centro de Estudos Judaicos da FFLCH-USP, com o apoio do Instituto Brasil-Israel (IBI), apresenta o Congresso Nacional de Pesquisadores em Estudos Judaicos 2021. As mesas abordam, além da história e cultura judaica, temas como a filosofia, os reflexos do Holocausto na política e na sociedade, a arte e a língua hebraica, estudo e releitura do Torá, entre outros. A palestra de abertura, “Arrancados da Terra”, às 15:30 do dia 5, será com o escritor e jornalista Lira Neto, ganhador do prêmio Jabuti de 2007 e 2010. Acompanhe.

A influência judaica nas HQs: Você sabia que o Super-Homem, a Mulher Maravilha e o Pantera Negra foram criados por autores de origem judaica? Muitos destes autores vieram de famílias que, fugindo da guerra na Europa, procuraram asilo nos Estados Unidos. Na edição desta semana do “E Eu com Isso?”, Ana Buchmann e Amanda Hatzyrah conversaram com Laura Hauser sobre as referências e influências judaicas presentes nos quadrinhos mais populares. Ouça.

Lições do Afeganistão: Na última quinta-feira, o correspondente de guerra Yan Boechat, que esteve recentemente na fronteira do Irã com a Turquia, acompanhando o fluxo de refugiados, e Giovanna Monteiro, coordenadora geral do Observatório Feminista de Relações Internacionais, participaram do evento Lições do Afeganistão, no qual debateram o que a retirada das tropas americanas e a chegada do Taleban têm a ensinar para os principais atores da região. Veja.

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