“Ainda temos dois povos com direito a autodeterminação lutando entre si”

Psicanalista, formado em História pela USP, Daniel Golovaty viveu em Israel entre de 1998 a 1999 e participa de vários grupos pacifistas desde 2001, com a preocupação de criar apoio na diáspora para a criação de um Estado palestino e para paz entre os dois povos em Israel. 

O psicanalista também participa da rede Juprog ( Judeus progressistas brasileiros). Confira a entrevista que ele concedeu ao IBI. 

Por que o conflito israelense-palestino tem tamanha centralidade na agenda da militância política de esquerda,no Brasil e no mundo?

Considero esta uma pergunta muito interessante, que, na maioria das vezes, as pessoas não se fazem. Até porque, primeiro olhar, as razões do apoio da esquerda à causa palestina parecem óbvias. Os palestinos são um povo oprimido e a esquerda, por definição, luta pela igualdade e se solidariza com a luta de povos por liberdade e justiça. Mas o que não é tão óbvio é a ubiquidade do apoio esquerdista aos palestinos em relação a outras causas congêneres. Quase sempre existem na África e na Ásia conflitos mais mortíferos do que o israelense-palestino. No entanto, nenhum deles desperta no Ocidente a atenção quase contínua e os profundos furores que este último desperta. Também há vários povos no mundo em condições análogas às do povo palestino: povos sem Estado independente e que sofrem opressão nacional. Contudo, não são as bandeiras curda, tibetana ou uigure que tremulam em quase todos os movimentos de esquerda mundo afora. E não é apenas para a esquerda que o conflito israelense-palestino adquiriu centralidade. Também isto ocorreu para certa direita. Mas, para responder a tua pergunta, vamos focar na esquerda, sobretudo naquela parcela extremista em que, muitas vezes, se percebe que a aparente solidariedade aos palestinos chega a ser pouco mais do que um pretexto para a expressão de um profundo ódio a Israel. Em psicanálise, quando a um fato ou comportamento se liga uma carga afetiva claramente exagerada, sabemos que deve se tratar aí de um sintoma. O que é a neurose senão um conflito que foi reprimido e que se deslocou para um terreno estranho ao original, com caracteres que, a primeira vista, não nos são familiares? Creio que se trata aqui, no conflito israelense-palestino, de um sintoma no sentido psicanalítico, pois nele se condensam afetos e representações que são o produto de deslocamentos de outros conflitos. 

Quais seriam eles? 
Quando falamos da esquerda marxista ou, de modo mais geral, “alter-mundista” percebemos que, no que tange aos conflitos internacionais, existem setores importantes destes grupos que se orientam pelo “significante mestre” do anti-imperialismo. Atenção: é importante distinguir o que estou chamando aqui de anti- imperialismo da questão legítima sobre a aplicabilidade ou não do conceito marxista de imperialismo ao mundo de hoje. No fenômeno em tela não se trata disto, isto é, de uma questão conceitual, mas sim de uma representação abrangente, de um sentimento carregado e difuso – sentimento de ódio! – de que existe uma raiz do Mal no mundo, cujo nome seria “capitalismo”. Até aqui, podemos estar dentro da clássica crítica marxista. Mas aí passamos para um segundo momento, pois, para Marx, o Capital não se tratava de uma coisa entificada em determinado lugar ou sujeito político, mas sim de uma relação social reificada que estava quase que em toda parte. E sua crítica nada tinha de simplista ou mesmo binária. Este segundo momento é trazido pelo que eu chamo de “anti-imperialismo enquanto weltanchaung” (visão de mundo). Neste ponto, o Capital que, para Marx, era um “sujeito cego e automático”, uma abstração real, como que se “encarna”, adquire olhos e uma intencionalidade bem clara. Mas encarna onde? No “Império”! Os EUA deixam de serem vistos apenas como a maior economia capitalista do mundo e hegemônicos do ponto de vista político e militar,passando a serem concebidos como o locus de um povo ede uma cultura desde o início corrompidos pela forma mercadoria, isto é, como a quintessência do capitalismo no mundo. Assim, o Capital é como que encarnado pelo “imperialismo ianque” que passa então a ser visto como “a raiz de todo Mal”, contra o qual “os povos” apenas “resistem”. Surge aí o antiamericanismo da esquerda vulgar, o qual procurei analisar em uma resenha que fizpara a Revista Fevereiro de um livro de quem talvez seja o maior guru deste grupo, o filósofo italiano Domenico Losurdo (https://www.revistafevereiro.com/pag.php?r=05&t=09). Também existe um antiamericanismo da extrema-direita, que no trabalho supracitado abordei, lembrando de como os nazistas condenavam a América de um modo muito semelhante ao que hoje vemos em setores desta esquerda. Bem, agora, como você já deve ter percebido, nos aproximamos da resposta da tua pergunta. Pois chegamos ao “terceiro momento” desta construção ideológica, que é o “antissionismo”, cujo significado não tem nada a ver com críticas legítimas aos governos de Israel, ou mesmo com denúncias de seus crimes nos mais duros termos. Pois o que este antissionismo ( não confundir com “não-sionismo” que pode ser outra coisa…) reivindica é a cassação do direito elementar de Israel existir. E com base em que? Na ideia de que Israel não constitui um Estado legítimo, visto que não representaria povo nenhum, mas seria a plasmação institucional dos mais pérfidos interesses do poder e do dinheiro ocidentais no Oriente Médio. É a antiga tese da “entidade sionista”, para a qual – e isto é fundamental que se perceba – são deslocados todos os significantes do antissemitismo clássico. Assim, o sionismo deixa de ser um histórico movimento nacional do povo judeu, para ser o produto de uma conspiração ocidental visando dominar os povos árabes e, através do controle do petróleo, o mundo inteiro! Israel não seria um Estado no qual um povo se vê e se sente representado, mas o produto “artificial” desta conspiração, de modo que não poderia ser reformado, mas – qual um tumor maligno – apenas extirpado. Por fim, a Israel é atribuído um enigmático superpoder, operação decorrente da criação do oximoro do “sionismo internacional”, que vem a substituir o infame e – desde a derrota do nazi-fascismo – também impronunciável “judaísmo internacional”. Como sabemos, existem comunidades judaicas espalhadas quase por todoo mundo. E, em alguns casos, alguns de seus membros organizam lobbys em favor de Israel. Apenas em um caso este lobby pró-Israel tem relevância política, que é justamente nos Estados Unidos – e isto se explica não por um alegado poder insondável “dos judeus”, mas porque a defesa de Israel, através de uma colagem de mitos nacionais, está profundamente arraigada na cultura popular americana, de base evangélica e sionista cristã. Aqui há uma identificação de duas autoatribuídas excepcionalidades. Assim, o grande povo que deteria o “destino manifesto” teria o dever moral de apoiar e proteger o pequeno povo que representaria “um farol para as nações”, um povo de pioneiros que encarnaria a única democracia no Oriente Médio, etc. Mas não é bem assim que a esquerda antissionista compreende o lobby pró-Israel. Através de duas operações conceituais, esta esquerda transforma o que seria uma crítica legítima a um lobby em uma sórdida teoria da conspiração judaica. A primeira operação deriva da sustentação de que “os judeus” americanos enviesariam a política dos EUA não por qualquer razão política circunstancial, mas por que se constituiriam em sua elite capitalista-imperialista nos termos acima descritos. A segunda operação deriva da alegação de que o maligno “lobby sionista” não seria apenas um lobby para favorecer Israel ( lembremos aqui do óbvio: o sionismo é, por definição, um movimento nacional), mas uma organização cuja meta seria a dominação mundial. Assim, pululam alegações de que “os sionistas” estariam de olho na Amazônia brasileira e no Aquifero Guarani. Até o golpe parlamentar de 2016 passa a ter relação com este “sionismo”. E por aí ladeira abaixo…Para concluir uma resposta satisfatória a tua pergunta teríamos de, por fim, tentar entender o porquê de o anti-imperialismo/ antissionismo se constituírem em visões de mundo tão rígidas e difíceis de serem combatidas. Neste ponto, para mim, quem deu a melhor resposta foi Sartre, em sua “Reflexão sobre a Questão Judaica”. Lá ele diz que o antissemita não é maniqueísta por ser antissemita, mas, ao contrário, ele é antissemita porque, desde o princípio, escolheu uma posição existencial maniqueísta. Neste ponto, Sartre coincide com Adorno e Horkheimer, que asseveravam que não é o ticket antissemita que é antissemita, mas o “pensamento do ticket” enquanto tal. ESartre conclui: “o antissemita escolheu o ódio porque o ódio é uma fé”. Ao construir um grande Outro que seria a “raiz de todo Mal” e, ao mesmo tempo, conferiria unidade e inteligibilidade ao mundo, o antissemita se isenta do que define a nossa condição humana: da incerteza sobre o sentido de sua existência, bem como da responsabilidade por suas palavras e por seus atos. Um mundo aberto, contingente, sem um sentido predeterminado, onde não existe grande Outro, é algo assustador e produtor deangústia. Portanto, nos comprazamos em odiar os ianques e os judeus!

 Uma das principais críticas ao sionismo é de que se trata de um movimento colonialista. Qual sua visão sobre isso?
A resposta a esta questão está claramente vinculada à anterior. Se os israelenses, produto do movimento sionista, não existem enquanto um povo com história, cultura, diversidade, angústias e até loucuras, isto é, se eu entendo Israel não como a expressão estatal do direito de autodeterminação de um povo, mas algo como um acampamento militar colonialista ou imperialista, então eu posso defender que: a) a luta palestina é uma luta universal, pois se contrapõe a um projeto imperialista mundial; b) Israel não tem o direito de existir e deve ser destruído. Portanto, eu torno legítimo um programa que é propriamente genocida ( pois quem elege um objetivo também se responsabiliza pelos meios necessários a sua consecução ). Para tanto, os antissionistas sustentam que Israel foi implantado no Oriente Médio pela Inglaterra,maior potência colonial da época, a qual, ato contínuo, teria passado o bastão para os EUA, maior potência imperialista.Perceba que esta narrativa é até verossímil, mas é falsa. Qualquer estudo mais aprofundado da história a desmente. Estamos aqui no campo da pura ideologia, onde fatos históricos são selecionados para confirmar preconceitos e programas políticos previamente assumidos.

 Muitos nas esquerdas que condenam a violência israelense não fazem o mesmo em relação a violência palestina, alegando que não há simetria entre as partes. Como você vê isto?
A defesa da violência palestina com base na assimetria das partes é mais uma falsidade que se constrói com meias verdades. Conflitos simétricos são conflitos em que os contendores têm estruturalmente as mesmas características, independente da variação contingente da correlação de forças entre eles. Por exemplo: dois povos que fazem guerra pelo mesmo território. Trata-se aqui de um conflito simétrico, pois a constituição e os objetivos dos contendores são da mesma natureza, não importando para a definição da simetria qual deles seja eventualmente mais forte. Em tais circunstâncias simétricas, a vitória de qualquer um dos lados produzirá injustiça. A justiça, ao contrário, neste caso só poderia ser o produto de um acordo razoável entre as partes. Já o paradigma do conflito assimétrico é o do senhor e do escravo. Nele, os contendores não se definem de forma equivalente e não lutam pelas mesmas coisas. O senhor luta para manter a opressão e a dominação. O escravo luta por liberdade. É claro que, neste tipo de conflito, a justiça não pode ser estabelecida por nenhum acordo que mantenha a relação de servidão. A justiça está claramente do lado da vitória do escravo e sua violência ( na verdade, contra-violência ), de fato, não pode ser moralmente equiparada à violência dos senhores. Agora, tendo em vista o conflito israelense-palestino, o que temos? Um conflito simétrico ou assimétrico? Resposta: uma mistura das duas coisas. Explico. Até a guerra de 1947-1949, tivemos um conflito, de certa forma, simétrico, pois se tratava ( ao menos até a intervenção dos países árabes em 1948 ) de dois movimentos nacionais que lutavam por um mesmo território. A vitória de Israel produziu, além de um Estado para o povo judeu, uma grande injustiça, que os palestinos chamam de Nakba. Mas, perceba que se o lado árabe saísse da guerra vencedor e cumprisse o seu objetivo de “jogar os judeus no mar”, com certeza a injustiça produzida não seria menor do que foi a Nakba. Encontramo-nos aqui diante de uma situação verdadeiramente trágica, que só poderia ter sido contornada com a evitação a todo custo da guerra. De fato, a única possibilidade de justiça teria sido evitar a guerra com uma proposta de um acordo razoável entre as partes. Isto foi o que a ONU propôs, mas, como sabemos, as lideranças árabes rejeitaram a proposta da partilha nos mais duros termos. Agora, com a vitória israelense na Guerra dos Seis Dias, de junho de 1967, o que temos? Em primeiro lugar, é preciso afirmar claramente que Israel travou naquele longínquo ano uma legítima guerra de defesa, cuja derrota poderia ter resultado na destruição do país, inclusive com um novo genocídio judaico. Entretanto, o resultado da guerra foi colocar regiões densamente povoadas por árabes sob o controle de Israel, uma situação de iniquidade que não poderia e não deveria durar. Foi a ocupação de Gaza e Cisjordânia que introduziu no conflito israelense-palestino uma camada assimétrica. Mas, nota bene, esta camada não aboliu a dimensão simétrica do conflito – ainda temos dois povos com direito a autodeterminação lutando entre si-, mas como que se confundiu com ela. Veja, a luta palestina contra a ocupação não é simplesmente uma luta anticolonial como foi a luta dos argelinos contra a França, pois, nesta luta, o território francês jamais esteve em disputa! É esta indeterminação do conflito, que mistura aspectos simétricos e assimétricos, talvez a maior responsável por sua perenização. De fato, os palestinos lutam contra a ocupação. Mas o que é “a luta contra a ocupação”? Na boca dos líderes do Hamas, ela significa uma coisa que envolve a destruição de Israel e o provável genocídio dos judeus israelenses, resultando na instauração pela força de um Estado Islâmico no que era o território da antiga Palestina mandatária. Já na boca dos líderes da Autoridade Palestina, ela pode significar o estabelecimento de um Estado palestino livre e soberano ao lado de Israel e convivendo em paz com este. Inversamente, o governo israelense diz lutar pela defesa de seu território e também contra o terrorismo. Mas, novamente, o que significa na boca de Netanyahu a palavra “defesa”? E qual “território”? E “terrorismo”? Como podemos concluir, a indeterminação objetiva e subjetiva deste conflito tende a favorecer a sua polarização e dificultar qualquer verdadeiro diálogo, pois envenena as próprias palavras. Não por acaso, a raiz do termo guerra vem de um radical do indo-europeu, “wer”, que significa confusão! Nesta situação, não faz sentido, com base no aspecto assimétrico do conflito, pretender discernir a legitimidade de uma violência palestina que é indiscriminada. É uma contradição nos termos! Ao contrário, é preciso discernir da forma mais clara possível, de ambos os lados em luta, os objetivos e métodos legítimos dos objetivos e métodos ilegítimos. Eu pertenço politicamente à esquerda democrática e, após muitos anos sendo atormentado por esta questão, produzi uma fórmula que acho que pode ajudar no encaminhamento da luta por uma paz justa: “não falar de paz sem falar da luta contra a ocupação. E, inversamente, não falar da luta contra a ocupação sem falar de paz e do respeito ao direito de autodeterminação de ambos os povos”. Creio que aí estão contemplados tanto o aspecto simétrico quanto assimétrico deste conflito.

Qual a sua opinião sobre a solução de dois Estados para dois povos?
Tendo em vista a vontade soberana de ambos os povos, creio que, no momento, é a única saída de paz possível. Existe uma defesa legítima da solução binacional que envolve a formação da vontade e construção da confiança mútua. Mas aqui, novamente, a indeterminação do conflito envenena as palavras, pois é preciso tomar muito cuidado com a defesa farsesca da solução binacional. É preciso afirmar claramente: só existe verdadeira solução binacional se esta for o resultado da escolha livre e soberana de ambos os povos. Solução binacional forçada, imposta por uma das partes por meio da violência, não passa de um eufemismo para massacre e genocídio.

É possível atender à demanda do direito de retorno dos refugiados palestinos tendo em vista a solução de dois Estados?
Se entendermos por direito de retorno a volta dos refugiados palestinos e de seus descendentes para as terras das quais originariamente foram expulsos, claramente não. Para mim, a posição mais rigorosa deste delicado problema, que envolve um profundo trauma, é que se trata aqui de um choque de direitos: o direito internacional faculta o retorno dos refugiados palestinos. Mas o mesmo direito internacional reconhece o direito de segurança e autodeterminação israelense. Por qualquer avaliação realista, no presente momento, são direitos excludentes. Neste caso, o que fazer? Como dizia Marx, direito contra direito, a história costuma dar a última palavra ao lado mais forte. Mas não é fatal que seja assim, pois o direito internacional também contempla a possibilidade de uma solução negociada, na qual Israel reconheceria a sua parte de responsabilidade sobre a Nakba e pediria perdão aos palestinos. Além disso, garantiria que os refugiados que perderam suas propriedades fossem adequadamente indenizados. Por outro lado, os palestinos reconheceriam que o retorno para onde hoje é considerado pela grande maioria da comunidade internacional território israelense constitui um sonho impossível de anular o tempo e apagar do mapa e da história o movimento sionista e Israel. Aceitariam, portanto, uma alternativa que consistiria ou no seu assentamento no território do futuro Estado palestino ou no recebimento de cidadania plena nos territórios onde já vivem ou ainda em outros países que se abririam a sua escolha. Isto parece abstrato, mas não é. Existe a Iniciativa de Genebra, cujos acordos foram costurados por representantes das sociedades civis de ambos os povos e que apresenta uma solução concreta para esta dura questão.

Qual a sua opinião sobre os boicotes a Israel?
Sobre o BDS eu gostaria de dizer basicamente duas coisas. Primeiro, enquanto autêntico movimento palestino ele é legítimo. O principal contra-argumento, o do “double standard”, duplo padrão moral cuja adesão ao BDS necessariamente envolveria, simplesmente não me convence. Eu também acho perturbador ver intelectuais e artistas americanos e europeus ( e até brasileiros! ) propondo para seus congêneres israelenses um boicote que jamais sequer cogitaram para si mesmos. Mas esta é uma contradição moral que não pode impedir uma ação política justa e com chance de ter um resultado bom, pois a moral e a política possuem tempos diferentes. Com certeza, o boicote contra o regime do apartheid na África do Sul teve a adesão de muitos regimes que eram ainda piores do que ele. No entanto, funcionou! O tempo da política é o tempo da contingência e da oportunidade. Boicotar Israel e não outros países que violam direitos humanos não significa que Israel seja o pior caso de todos. Significa apenas que, a exemplo dos negros sul-africanos, os palestinos estão tendo mais sucesso do que outros povos oprimidos para divulgar a sua causa. Nada impede que, no futuro, outros sigam o seu caminho. Temos que lembrar que os palestinos estão amargando uma ocupação que já tem mais de 50 anos. Estão numa situação desesperadora, impotentes, e que é muito fácil para nós judeus apontarmos as incoerências e injustiças de um boicote sem oferecer qualquer alternativa para uma injustiça que é muito maior. Dito isto, a segunda coisa que penso ser necessário que seja dita é que o BDS paga um preço por ser ambíguo em seus fins e, sobretudo, indiscriminado e equivocado em seus meios. Por tudo que já tentei dizer nesta entrevista, um boicote indiscriminado é um grande erro porque fortalece justamente aquele aspecto de indeterminação que creio ser o principal responsável pela perenização deste conflito. Ele acende o alerta vermelho da ameaça existencial e do antissemitismo na cabeça da maioria dos judeus, tanto dentro quanto fora de Israel. Com certeza, com isto ele também ganha a adesão entusiasmada de pessoas e regimes antissemitas por todo o mundo, mas perde a apoio das forças democráticas que poderiam estar a seu lado, inclusive dentro de Israel, caso se tratasse de um boicote focado na ocupação e em tudo que a ela se relaciona. Eu sei que é difícil, mas o caminho para os judeus verdadeiramente democratas ( sionistas ou não ) passa por tentar estabelecer um diálogo com o BDS.

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