The Economist: Por que os palestinos nunca se sentiram tão desesperançosos?

Mesmo pelos padrões do processo de paz, este pode ser um ponto ainda mais baixo. Os assessores do presidente Donald Trump passaram o último ano oscilando entre israelenses e palestinos. O governo está prestes a revelar um plano de paz, mas seu trabalho já entrou naquilo que a Casa Branca chama de “período de descompressão”. Quando o vice-presidente americano Mike Pence visitar o Oriente Médio em janeiro, é improvável que seja recebido por um líder palestino. A mais recente rodada de conversas pode acabar antes mesmo de começar.

A causa é a decisão do Sr. Trump de reconhecer, no dia 6 de novembro, Jerusalém como a capital de Israel, ignorando as reinvindicações palestinas pela cidade. O anúncio enfraqueceu a pretensão dos Estados Unidos de se apresentar como um mediador justo. Mas também evidenciou o estado decrépito do movimento nacional palestino. Os protestos contra a decisão foram relativamente pequenos – apenas alguns milhares de palestinos compareceram em seu auge. Oito palestinos foram mortos pela violência, mas ela não chegou nem perto da escala de uma nova intifada. 

A reação discreta é, em parte, um reflexo da pouca inspiração que as lideranças palestinas despertam. Por mais de uma década, o presidente Mahmoud Abbas, já em idade avançada, tem oscilado entre esforços de paz fracassados e tentativas simbólicas de enfrentar Israel na ONU. O partido Fatah do Sr. Abbas foi expulso da Faixa de Gaza pelo grupo militante islâmico Hamas, que conseguiu a maioria no parlamento em 2006. Mas as três guerras entre o Hamas e Israel trouxeram apenas miséria para o território, onde metade da população está desempregada. Um vislumbre de esperança surgiu em outubro, quando os partidos concordaram em se conciliar. Mas esse acordo, assim como os seis acordos de reconciliação que o precederam, ainda não foi implementado. 

Os palestinos se sentem isolados e desesperançosos. Sua causa perdeu ressonância em um Oriente Médio em convulsão por guerras civis e conflitos por procuração entre o Irã, uma potência xiita, e a Arábia Saudita, que defende os sunitas na região. Países árabes apresentaram pouco mais do que condenações vazias à decisão sobre Jerusalém. A Arábia Saudita parece mais interessada em agradar Israel, que se tornou um aliado tácito no conflito com o Irã. Os palestinos dizem que o que viram do plano de paz americano é ofensivo, mas os sauditas estão pressionando para que o apoiem. Mesmo depois do discurso do Sr. Trump, o ministro das relações exteriores saudita classificou seus esforços de paz como “sérios”. 

No dia a dia, os palestinos têm preocupações mais imediatas, como comida, água e abrigo. Na Cisjordânia, os jovens sonham em partir em busca de uma vida melhor no Ocidente ou nos países do Golfo. Nas ruas de Gaza, onde o Hamas já contou com amplo apoio, hoje é comum ouvir críticas ao grupo e até mesmo nostalgia do tempo quando Israel controlava o território. Ao serem perguntados sobre o maior problema da sociedade palestina, menos de um terço mencionou a ocupação. Muitos consideram o desemprego, a pobreza e a corrupção desafios mais urgentes. 


As eleições nacionais já deveriam ter ocorrido há oito anos. Assim, muitos palestinos perderam a fé na política. O único exercício democrático nos últimos anos, uma eleição local em maio, teve apenas 53% de participação, uma queda em relação aos 70% de uma década atrás. A idade média no território é de 19 anos, mas o mais jovem candidato com chances de substituir o Sr. Abbas tem bem mais de 60. Com a possibilidade distante de paz, muitos palestinos também perderam o interesse em uma solução de dois estados. Uma pesquisa em agosto apontou que 52% ainda são a favor de tal acordo. Mas o apoio caiu para 43% quando os pesquisadores explicaram como seria uma solução de dois estados. Há também fortes discordâncias em relação às alternativas, com apoio semelhante a um estado binacional, um estado de apartheid, do qual judeus e “outros” seriam expulsos. 

Longe de ser o homem para alcançar um acordo, o Sr. Abbas se tornou um de seus maiores obstáculos. Ele tem pouca legitimidade para negociar em nome de seu povo, do qual dois terços querem que ele renuncie. Cada vez mais autoritário, ele parece estar mais preocupado com disputas internas do que com a ocupação israelense. “Seu maior objetivo é simplesmente sobreviver na política”, disse Salah Bardawil, um membro do Hamas. Mas o Hamas não tem se saído melhor.  

É notável que o único rompante de ativismo palestino bem-sucedido tenha sido em 2017, em Jerusalém Ocidental – onde tanto o Fatah quanto o Hamas têm pouca influência. Quando Israel implementou novos detectores de metal na Mesquita de Al-Aqsa, os palestinos fizeram protestos e Israel recuou. 

Mas alguns palestinos que moram na cidade estão entregando a luta mais importante. De 2014 a 2016, mais de quatro mil pediram cidadania israelense, três vezes mais do que uma década antes. “A ocupação não vai acabar. Israel não vai sair”, disse um manifestante em julho. “Não nos ajuda fingir que vai.” 

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