O Efeito Bibi

Foto: AFP

Bibi, considerado um dos maiores estrategistas da política internacional foi derrotado e não é mais o primeiro-ministro de Israel.

O Likud, partido de Netanyahu, recebeu 30 cadeiras no parlamento, a maior bancada eleita e mesmo assim não conseguiu formar um governo viável. Segundo especialistas, o grupo formaria uma coalizão se qualquer outra pessoa estivesse indicada para assumir o cargo mais importante da política israelense.

O futuro da política israelense pode ser questionado e analisado, mas antes disso é preciso olhar e tentar entender o que foi a era Bibi.

Benjamin Netanyahu nasceu em Tel Aviv, no ano de 1949. Tem um ano de vida a mais do que o país onde nasceu, Israel, fundado em 1948.Filho de Benzion Netanyahu, historiador importante e militante do movimento revisionista israelense tem dois irmãos: Iddo e Ionatan.

Em 1963, com apenas 14 anos, Netanyahu se mudou para os Estados Unidos com a família. Seu pai fazia doutorado na cidade de Filadélfia. A sua relação com os EUA foi longa, tendo se formado em arquitetura a administração no MIT (Massachusetts Institute Of Technology) e adquirido uma fluência na língua inglesa.

Em meio aos estudos, Bibi voltou a Israel em 1967 para se alistar no exército em uma das unidades de combate com mais prestígio no país chamada Sayeret Matkal. Além disso, ele lutou na guerra de Yom Kippur.

Depois de finalizar os seus estudos nos Estados Unidos, Netanyahu teve uma carreira no setor privado, trabalhando no Boston Consulting Group, uma firma de consultoria financeira internacional.

Em 1976, Benjamin Netanyahu sofreu um grande golpe pela morte de seu irmão durante a Operação Entebbe, uma das missões mais importantes da história de Israel. Ionatan Netanyahu era o comandante de um grupo que tinha como objetivo resgatar passageiros de um avião que fazia um voo de Paris para Tel Aviv e foi sequestrado por milícias palestinas e alemãs que pousaram o avião na cidade de Entebbe, em Uganda.

O irmão de Bibi foi a única baixa da operação, que conseguiu resgatar todos os reféns. O episódio tornou o sobrenome Netanyahu muito famoso em Israel.

Impulsionado pela morte do irmão, Bibi organizou duas conferencias internacionais sobre como combater o terrorismo e isso atraiu atenção para a usa habilidade de oratória. Em 1982, ele se junta ao corpo diplomático israelense nos Estados Unidos. Dois anos depois ele se torna embaixador de Israel na ONU(Organização das Nações Unidas).

Em 1988, ele retorna a Israel com a vontade de entrar na política e é eleito para o parlamento pelo partido Likud. Bibi foi apontado como ministro das Relações Exteriores e ocupou o cargo por quatro anos. Em 1993 ele vence as eleições internas dentro do Likud e se torna a principal voz a oposição contra o governo liderado por Yitzchak Rabin.

O ex-premiê se posicionou contra os Acordos de Oslo, assinados em 1993 e que reconheciam a Autoridade Palestina como representante oficial do povo palestino.

Netanyahu chegou ao poder pela primeira vez em 1996, após vencer Shimon Peres na primeira eleição direta para o posto de primeiro-ministro na história de Israel. Durante a campanha contra Peres, Bibi adotou uma retórica contrária aos acordos de paz com os vizinhos árabes e afirmou que aumentaria a presença israelense na Cisjordânia. 

Durante o seu primeiro governo, entretanto, Netanyahu fez concessões em relação aos vizinhos. Assinou um acordo com autoridades palestinas, cedendo 80% da cidade de Hebrom a elas e aceitou diminuir a presença israelense na Cisjordânia.

Netanyahu renunciou ao cargo de primeiro-ministro em 1999 e, após três anos afastado da política israelense, voltou a fazer parte do governo em 2002. Assumiu o cargo de ministro das relações exteriores durante o mandato de Ariel Shalon, também membro do Likud. Entre 2003 e 2004 se tornou ministro das finanças do país. 

Em 2006, voltou a tentar se candidatar ao cargo de primeiro-ministro, dessa vez como presidente do Likud, após Shalon ter deixado o partido para integrar o partido centrista Kadima, vencedor do pleito.

Netanyahu retornou ao cargo de primeiro-ministro israelense em 2009, após conseguir formar coalizão entre o seu partido, o Likud, e outras siglas de direita com números significativos de cadeiras no Knesset, como o Yisrael Beiteinu e o Shas.

Logo em seu primeiro ano de governo, quando se aproximava o fim do acordo de suspensão de construção de assentamentos na Cisjordânia, Bibi acenou com a possibilidade de reconhecer a Palestina como um estado independente caso o país aceitasse ser desmilitarizado. Com a negativa de lideranças palestinas, os acordos de paz entre os dois países foram paralisados até o final do primeiro mandato de Netanyahu.

Durante esse período, Israel também teve um momento de crise aguda com o Irã. Netanyahu colocou pressão na comunidade internacional para que os países tomassem ações mais duras contra a suposta existência de armas nucleares no país persa.

A política interna israelense também foi conturbada no primeiro mandato de Bibi depois de seu retorno ao poder. Em 2011, manifestantes foram às ruas do país pedir por maios investimento do governo em setores como transporte, educação e moradia. Esse cenário levou à realização de eleições antecipadas em janeiro de 2013.

Netanyahu conseguiu se manter no poder, mas, dessa vez, foi obrigado a formar uma coalizão que abrangia mais partidos de centro do que a anterior. 

Os conflitos externos, entretanto, não acabaram. Em 2014, Netanyahu ordenou a realização de um ataque aéreo à Faixa de Gaza como resposta às ações de grupos palestinos contra Israel. 

As críticas internacionais ao ataque israelense e a divergência com partidos que compunham a coalizão formada em 2013 levaram à convocação de novas eleições para o início de 2015.

O impasse político israelense atual ocorreu pelo perfil camaleônico de Bibi, um dos motivos que fez com que ele ficasse no poder por tanto tempo.

O Likud, partido de Netanyahu, provavelmente formaria uma coalizão com qualquer outra pessoa como seu número 1, mas sofre com rupturas dentro de partidos de centro, direita e árabe-israelense.

Os recentes conflitos envolvendo o país e o grupo Hamas, facção palestina que controla a Faixa de Gaza, poderiam ter dado uma sobrevida a Bibi, mas a nova coalizão conseguiu avançar sobre o impasse.

Apesar dos rumores de que Netanyahu poderia reacender a chama em volta de seu nome, o opositor Yair Lapid chegou a um acordo com partidos de esquerda, direita, centro e árabe-israelense para produzir um governo de união nacional. O direitista Naftali Bennet será o primeiro-ministro até 2023, enquanto Lapid vai terminar o mandato e ficar no cargo até 2025.

O futuro de Bibi, que parecia um articulador político invencível, está incerto.

A única certeza é que Benjamin Netanyahu nunca passará despercebido. A era Bibi deixou marcas, só não sabemos por quanto tempo elas ainda estarão presentes.

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