“Adeus, lenda”: Israel se comove com a morte do Rei Pelé

Daniela Kresch

TEL AVIV – O Brasil brilhou no episódio mais recente do podcast “Unholy: Dois judeus no noticiário”, apresentado por Yonit Levi, a mais famosa âncora de TV de Israel, e Jonathan Freedland, do jornal britânico The Guardian. Semanalmente, eles concedem dois prêmios a pessoas que se destacaram em relação ao mundo judaico: o Prêmio Chutzpá (cara de pau) e o Prêmio Mentsh (boa praça). Esta semana, brasileiros receberam ambos.

O Prêmio Chutzpá foi para o deputado americano republicano George Santos, 34, nascido em Nova York e filho de pais brasileiros, que mentiu sobre todo seu currículo, incluindo sua ascendência judaica. Inventou que seus avós eram judeus ucranianos e que teriam fugido para o Brasil “durante a Segunda Guerra Mundial”. Disse ser “um orgulhoso judeu americano”. Ao ser descoberto pela imprensa, alegou que não era “Jewish” (judeu) e sim “Jew-ish” (mais ou menos judeu). Chutzpá.

Já o Prêmio Mentsh foi para o mais famoso brasileiro da história: o Rei Pelé, que faleceu em 29 de dezembro. Não se pode duvidar do impacto causado pelo jogador em todo o mundo. Em Israel, Pelé ocupava (e continuará ocupando) um lugar VIP no coração das pessoas – amantes ou não do futebol. Era símbolo da alegria de viver, da criatividade, da superação, da humildade e do espírito esportivo brasileiro.

Um exemplo dessa importância aconteceu assim que a notícia sobre o falecimento de Edson Arantes do Nascimento. Mesmo no dia da esperada posse e juramento do polêmico novo governo de Israel, a rádio Reshet Bet abriu seu noticiário com a triste notícia. Só depois passou para Benjamin Netanyahu e sua nova coalizão de extrema-direita.

O site do Canal Kan 11 estampou a notícia sobre Pelé no alto, com um texto do jornalista esportivo Uri Levy se despedindo de seu ídolo do futebol de infância, com quem teve o prazer de se encontrar duas vezes. Levy lembrou de como, quando criança, saía para jogar futebol na rua e fingia ser o Pelé. “Éramos todos Pelé. Pelé chuta, Pelé bate, Pelé passa e claro Pelé faz gol. Até o goleiro era o Pelé”.

“Na Copa do Mundo de 2010, quando ele era Ministro do Esporte de sua terra natal, contei a ele sobre como choramos quando ele saiu de campo derrotado na Copa de 1966 em Londres”, escreveu Levy. “Pelé deu um de seus sorrisos publicitários e me disse: ‘esquece Londres, lembre-se do México’. Realmente, o México 70 está gravado na minha cabeça e no meu coração”.

Foi justamente na Copa de 70 – único Mundial que a Seleção de Israel jogou, sendo desqualificada na primeira fase – que os israelenses se apaixonaram pelo Pelé. Tudo relacionado a ele e ao Brasil entrou na moda. Música brasileira, comida, cultura. O amor a Pelé se manteve por todos esses anos. Tanto que a embaixada de Israel em Brasília hasteou a bandeira do país a meio-mastro em homenagem ao Rei. “Era o maior de todos os tempos, incomparável”, disse o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, em vídeo nas redes sociais.

“O Rei morreu”, noticiou o jornal Yediot Aharonot (Últimas Notícias), para o qual Pelé foi um gênio brasileiro, “uma pessoa só de amor e alegria de viver” e “uma lenda que transformou o esporte em arte”. O texto do maior jornal de Israel também diz que “o jovem pobre e de pele escura que brilhou aos 17 anos, acabou se transformando no primeiro superstar do esporte internacional”.

Todos os outros jornais e sites da mídia israelense destacaram a morte do lendário jogador. O site do Canal 12 trouxe dos arquivos uma entrevista com o jogador israelense Mordechai “Motaleh” Shpigler, que jogou com Pelé no Cosmos, em 1975 (e quem marcou o único gol de Israel na História das Copas, no empate de 1 a 1 contra a Suécia em 1970).

“Eu aprendo muito com ele”, diz Shpigler na entrevista, na qual aparece abraçado com Pelé. “É preciso aprender com ele porque, em poucas palavras, ele é o maior do mundo”.

A morte de Edson Arantes do Nascimento abalou muitos israelenses nos últimos dias de 2022. Mas Pelé continuará nos corações e mentes por aqui, sempre como um embaixador do Brasil e seu potencial. “Adeus, lenda”, escreveu o Yediot Aharonot. Adeus.

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