Reunião de Netanyahu com os parlamentares árabes e escalada de violência na sociedade árabe

Revital Poleg 

Diante da violência crescente e da criminalidade desenfreada na sociedade árabe, pela primeira vez desde a formação do governo, uma reunião foi realizada por iniciativa de Netanyahu. Estiveram no encontro membros árabes do Knesset da Lista Conjunta – liderados pelos parlamentares Ayman Odeh (Hadash) e Ahmed Tibi (Ta’al), juntamente com os chefes das autoridades árabes locais que lhe manifestaram seu grito. A reunião aconteceu no último dia 5.

Enquanto estavam na reunião, eles foram informados de outro assassinato que aconteceu em uma das aldeias da Galiléia, no qual a 91ª vítima desde o início deste ano foi morta. 

No momento em que este artigo foi escrito, o número já aumentou, chegando a 98 mortes, seis deles em apenas um dia, incluindo um garoto de 15 anos. 

Toda vida perdida é um grande desastre, mas a realidade atual está além de qualquer limite tolerável.

Antes da discussão, o Hadash-Ta’al deixou claro para o Gabinete do Primeiro Ministro que a participação do Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, não seria aceitável e levaria ao cancelamento da reunião. E, de fato, tanto o ministro quanto o chefe da polícia não participaram da reunião.

O parlamentar Mansour Abbas (RAAM) se recusou a participar da reunião, alegando que não acredita no Primeiro Ministro. Em vez disso, ele enviou uma lista de demandas incluindo a demissão de Ben Gvir de seu cargo e a nomeação de um ministro profissional e apolítico que conduziria uma política nova e adequada na área.

Pouco antes da reunião da qual ele não participou, Ben Gvir anunciou que dentro de duas semanas nomearia um gestor especial de projeto para liderar a questão e que ele “colocaria essa luta no topo da sua lista de prioridades”. 

Considerando que foi o próprio Ben Gvir que interrompeu o plano de emergência “rota segura” para erradicar o crime na sociedade árabe, iniciado e liderado pelo governo Bennet-Lapid, impedindo assim um esforço concentrado que começou a mostrar resultados iniciais, sua declaração atual soa apenas populista.

Diante dessa declaração, os membros do Knesset, Odeh e Tibi, exigiram que Netanyahu submetesse o gerente do projeto ao gabinete do primeiro-ministro, já que, à luz da desconfiança mútua, seria improvável supor que haveria colaboração entre as autoridades árabes e o ministro. No final da reunião, ficou decidido o estabelecimento de um comitê diretivo que tratará todas as questões do setor árabe, com ênfase na erradicação do crime. O comitê será presidido pelo próprio primeiro-ministro.

No comunicado à mídia, o primeiro-ministro disse que: “O Estado de Israel não pode permitir o terrorismo. As organizações criminosas assassinas que aterrorizam a sociedade árabe não são definidas como terrorismo, mas, na prática, elas instilam medo em toda a população”. Ele afirmou que “precisamos deixar a política de lado, eliminar as divisões e trabalhar juntos para erradicar este flagelo criminoso”.

Ao sair da reunião, o membro do Knesset, Ahmed Tibi, disse que não foi fácil para ele realizar o encontro, mas que o fizeram pela necessidade de combater o crime. “Não estamos saindo da reunião otimistas”, disse o presidente do Hadash, Ayman Odeh, “o ônus da prova recai sobre o primeiro-ministro”. Ele acrescentou que não teve o privilégio de recusar tal reunião. “Estamos prontos para revirar todas as pedras a fim de derrotar o crime.”

O timing da reunião não foi uma coincidência e, por mais cínico que possa parecer, não se deveu apenas à necessidade desesperada e essencial de tomar decisões e implementar o mais rápido possível uma ação abrangente e determinada para erradicar o crime e a violência na sociedade árabe. 

O relatório da Controladoria do Estado (cuja data era conhecida com antecedência) foi publicado no dia seguinte à reunião. O relatório se referia especificamente ao fenômeno crescente de jovens árabes que são definidos como “ociosos”, ou seja, jovens que não têm emprego, educação ou treinamento – nos termos da OCDE. De acordo com o relatório, quase um terço dos jovens árabes entre 18 e 24 anos (29%) são inativos, o dobro da taxa média da OCDE. Esses são 57.000 jovens, 22.000 homens e 35.000 mulheres, e a situação é ainda pior entre os jovens beduínos.

Embora a maioria do crime no setor árabe se origine em famílias e grupos criminosos, o Controlador do Estado alertou que o fenômeno da inatividade entre os jovens árabes também afeta os índices de criminalidade nessa população, especialmente entre os homens. Muitos dos jovens que caem no crime são arrastados contra sua vontade por não terem outros caminhos ou alternativas. Esse fenômeno também é de grande preocupação para a sociedade árabe e exige um tratamento abrangente e sistemático por parte do governo.

Porém, a decisão do governo, tomada no início de abril, de estabelecer, sob a responsabilidade do ministro Ben Gvir, um “guarda nacional” que também tratará o crime na sociedade árabe e manterá a tranquilidade nas cidades mistas, é o que mais preocupa os cidadãos árabes. 

As palavras do ministro Amichai Eliyahu, companheiro de Ben Gvir na facção Otzma Yehudit, segundo o qual esse órgão não agirá contra os judeus, mas contra os cidadãos que simpatizam com o inimigo, e combaterá o crime nacionalista, apenas intensificou a preocupação e o ressentimento. Declarações desse tipo têm um efeito tóxico sobre as relações entre árabes e judeus e sobre a perspectiva de estabelecer medidas de formação de confiança, e não contribuem de forma alguma para o combate do crime na sociedade árabe.

À luz do recente evento trágico em que cinco pessoas foram assassinadas em um único incidente, Netanyahu abordou o assunto imediatamente e pela primeira vez desde que assumiu o cargo, apesar dos muitos eventos difíceis que já ocorreram até agora.

Ele disse que está chocado com os acontecimentos e que está determinado a trazer o Serviço Geral de Segurança para ajudar a erradicar a cadeia de assassinatos horríveis.  

Ben Gvir, que não podia mais ignorar a situação, correu até a área do desastre para desgosto dos residentes do local, que o receberam com muita desconfiança. Sua declaração de que a criação da Guarda Nacional é a ordem do dia, é exatamente o que a sociedade árabe não queria ouvir.

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