Ultraortodoxos se alistam por causa da guerra

Daniela Kresch

TEL AVIV – Guerras chacoalham a realidade, a sociedade, tudo. Entre os vários terremotos internos, um dos maiores é a mudança dos ultraortodoxos em relação ao exército. Um dos exemplos disso é um fato que aconteceu há uma semana: Yanki Deri, 40 anos, um dos 8 filhos de Arieh Deri, líder do Shas, um tradicional e grande partido ultraortodoxo sefaradita, foi até uma base das Forças de Defesa de Israel para se alistar.

“Me alistei pelo desejo de contribuir da maneira que puder. Quaisquer que sejam as funções que me forem atribuídas, cumprirei o melhor que puder”, disse Yanki, que é pai de três filhos, ao jornal The Times of Israel. 

Ele foi um dos cerca de 3.000 homens haredim – em geral isentos do serviço militar se estudarem Torá – que se voluntariaram para servir desde o início da guerra com o Hamas, em 7 de outubro.

A imprensa israelense tem identificado uma mudança de atitude em relação ao exército por parte dos ultraortodoxos. Se, antes, eles faziam de tudo para não se alistar, agora, diante do massacre de 7 de outubro, muitos jovens haredim parecem entender a importância do exército para a proteção do Estado de Israel.

Esses novos recrutas não estão sendo vistos como “traidores” em suas casas ou bairros ultraortodoxos. Se, antes, soldados haredim de uniforme tinham que se esconder ou se preocupar com olhares ou intenções maldosas de seus vizinhos, agora podem circular e voltar para casa sem serem criticados ou expulsos. Há até olhares de agradecimento e admiração.

Não que o alistamento de Yanki seja revolucionário. Seu pai, o próprio Aryeh Deri, serviu nas FDI durante vários meses, assim como vários membros de sua família. Mas o alistamento reflete a realidade de uma maior abertura entre muitos eleitores do Shas à sociedade secular. Pelo menos no caso dos haredim sefaraditas.

No início deste ano, o Supremo Tribunal de Justiça rejeitou a nomeação de Aryeh Deri como ministro do Interior e da Saúde por causa de condenações criminais por fraude fiscal em 2022. O Supremo alegou que não era uma indicação “razoável”. Em 1999, Deri foi condenado a quatro anos de prisão por suborno, entre outros crimes. Foi a decisão do Supremo que impulsionou o governo atual de Benjamin Netanyahu a cancelar a chamada lei da razoabilidade, a única cláusula importante da judicial que o governo tentou aprovar, este ano. 

Por meses, manifestantes pró-democracia fizeram protestos contra a reforma judicial, polarizando a sociedade. Mas, os protestos desapareceram com o devastador ataque terrorista de 7 de outubro. A questão da reforma judicial foi certamente para o lixo. Não se sabe, ainda, se este governo vai sobreviver à guerra contra o Hamas. Netanyahu está sendo criticado pela maioria da população pelos erros que levaram à falha de segurança na fronteira com Gaza. Certamente, uma CPI será nomeada, após a guerra, para identificar os responsáveis.

Enquanto isso, os israelenses encontram uma nova solidariedade interna. A mudança de posicionamento dos ultraortodoxos em relação ao serviço militar talvez seja menos aparente entre os haredim ashkenazitas. Mas centenas deles também se alistaram nas FDI e outros milhares estão se voluntariando como civis.

A onda de identificação com o exército, entre os haredim, já gerou uma reação dos círculos mais intransigentes. Dov Lando, um dos principais líderes ashkenazitas haredim, introduziu um toque de recolher durante a semana em sua yeshivá (internato religioso) em Bnei Brak, impedindo assim os estudantes de se voluntariarem para o esforço de guerra e todas as outras atividades fora da yeshivá.

Em 22 de outubro, Lando publicou uma breve declaração no Yated Ne’eman, um jornal Haredi, que parecia apelar aos Haredim para que parassem de se voluntariar para ajudar no esforço de guerra: “Que todos os Haredim saibam que, para servir a D’us, temos apenas que estudar a Torá”.

Foto: NEEDPIX/PHOTO1830481

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