Derrota da coalizão em votação é marco na vida política de Netanyahu

Revital Poleg

Um verdadeiro drama aconteceu esta semana na Knesset, no dia 14 de junho, com o processo da escolha dos dois legisladores para o Comitê de Nomeações Judiciais. Mesmo um escritor particularmente talentoso não teria sido capaz de conceber o dia como foi, se tentasse. 

O “herói” do evento, que também é o principal perdedor, é o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que por anos foi considerado um “mágico político” poderoso e um líder absoluto dentro de sua casa política.

Porém, com o passar do tempo, e principalmente desde o início de seu atual mandato, apenas meio ano atrás, parece que a magia está ficando mais fraca, pois o líder parece cada vez mais vulnerável e, sobretudo, prisioneiro nas correntes da coalizão que ele mesmo formou.

Esse drama recente que ocorreu em torno da eleição dos para o Comitê de Nomeações Judiciais, no qual a liderança de Netanyahu foi colocada à prova e fracassou, será lembrado como um marco em sua vida política.

No fim de semana após o evento, enquanto a oposição celebra a vitória, a coalizão lambe as feridas e tenta identificar quais dos membros foram os “traidores” que votaram a favor da candidata da oposição (um dos principais suspeitos é o próprio Netanyahu).

O profundo racha entre a coalizão e a oposição atinge novos picos. As conversas na Residência do Presidente entre os dois lados para chegar a um consenso sobre a reforma judicial foram suspensas. Os partidários da revolução jurídica na coalizão estão “aquecendo os motores” e ameaçando devolver à mesa da Knesset os projetos de lei originais e perigosos, sem nenhum diálogo com a oposição.

Por outro lado, os líderes do protesto contra a revolução anunciam que estão atentos e prontos para se opor a qualquer medida desse tipo. 

Apenas uma pessoa ainda não se pronunciou: o próprio Netanyahu. Os holofotes da mídia israelense estão sob o primeiro-ministro, tentando decifrar a personalidade enigmática da pessoa que, até recentemente, era considerada um dos políticos mais proeminentes e talentosos do mundo (mesmo por aqueles que não concordam necessariamente com sua visão) e hoje em dia parece mais fraco que nunca e, sobretudo, como a pessoa que perdeu seu rumo.

De acordo com Gidi Weitz, do jornal “Haaretz”, o desejo de livrar-se do julgamento no qual está metido (e eu acrescentaria – do qual ele tem muito receio), gerou em Netanyahu profunda inimizade e desejo de revanche contra o sistema judiciário. Essa é a razão pela qual ele nomeou Yariv Levin como Ministro da Justiça, o homem cujas opiniões extremistas contra o sistema judiciário eram bem conhecidas por Netanyahu, que não as apoiou de forma alguma até que as acusações foram apresentadas contra ele. 

Do mesmo modo, ele abandonou a segurança pessoal dos cidadãos de Israel nas mãos do extremista e perigoso Itamar Ben Gvir, apesar de saber bem quem ele era e apesar dos alertas de seus associados, que se provaram, infelizmente, estarem corretos. 

Netanyahu também foi quem garantiu o lugar na Knesset para alguns oportunistas cínicos e tóxicos, como Tali Gottlieb (que recusou a exigência do primeiro-ministro de retirar sua candidatura para o Comitê de Nomeações Judiciais e, assim, criou o grande tumulto da última quarta-feira no Knesset). 

Hoje em dia, Netanyahu se vê prisioneiro nas mãos daqueles para os quais ele mesmo criou a “vida política”. Em outros dias, mais equilibrados, o atual primeiro-ministro ficaria longe de tais tipos. Esses tempos parecem muito distantes agora.

Ao formar o governo, Netanyahu ficou convencido de que a realidade pragmática superaria as ideologias extremas das figuras problemáticas que ele trouxe para seu governo – lideradas por Levin, Smotritz e Ben Gvir. Ele estava muito errado. O Netanyahu do passado não “cairia no buraco que ele mesmo cavou”. Ele não o teria cavado em primeiro lugar.

Em um artigo para o Maariv, Ben Caspit nos lembra que “Netanyahu não controla a coalizão, não controla o Likud, não controla seu círculo próximo, não controla seu destino. Mas ele ainda controla o nosso destino”. E de fato é assim.

Aparentemente, pelo menos sete membros da coalizão “desertaram” com o auxílio da votação secreta e votaram a favor da oposição. Isso não é apenas expressão da fraqueza do líder, mas também sua humilhação pública. 

Está muito cedo para tirar conclusões ou construir cenários sobre o futuro desse governo, mas não há dúvida de que Netanyahu está enfrentando hoje desafios de liderança que jamais enfrentou. A oposição contra ele, de dentro da própria coalizão, está ganhando força e inclui tanto aqueles que acreditam que Netanyahu se rende à oposição quanto aqueles que acham que ele se rende aos extremistas da coalizão e, assim, está prejudicando seu próprio partido-mãe, o Likud, e seu futuro político.

Os grupos de WhatsApp dos apoiadores do Likud nunca conheceram tais comentários contra Netanyahu. “Quem traiu o Likud hoje e, de fato, traiu e abandonou Levin, foi Netanyahu”, ou – “Bibi, vá embora, Yariv Levin é o nosso líder verdadeiro”, ou – “O que Netanyahu fez foi trair 2,5 milhões de votantes de direita.” 

E se isso não for suficiente, pela primeira vez, pessoas de direita se manifestaram contra ele em frente à sua casa em Cesareia no dia seguinte à votação na Knesset, para lembrá-lo, como eles dizem, quem votou nele e quem ele traiu.

No entanto, mesmo quando a realidade está gritando diante dos seus olhos, quando tanto os parceiros quanto os líderes da oposição estão cientes da fraqueza do primeiro-ministro, quando ele mesmo percebe que estava errado ao perceber a intensidade da oposição contra a revolução, por um lado, e da oposição de seus parceiros da coalizão para “matá-la”, por outro lado, Netanyahu continua a viver em uma bolha, com a crença de que ele não tem substituto. 

O senso de destino histórico para o qual ele foi destinado a liderar o Estado de Israel, que o acompanha desde que deu os primeiros passos na política ou talvez mesmo antes disso (com o apoio incondicional da esposa e do filho), é a força que o guia a todo custo. Enquanto o julgamento gira sobre sua cabeça, esse senso de destino, que também constitui sua única chance de escapar da punição, é ainda mais intensificado.

Foto: Israeli Embassy in Russia

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