Revital Poleg
O primeiro dia desta guerra contra o Irã foi bastante difícil para os cidadãos de Israel, e já cobrou vítimas, feridos e danos físicos significativos – muito além do que a lente da câmera, deliberadamente, nos permite ver.
A tática iraniana de lançar dezenas de mísseis contra áreas densamente povoadas em todo o território israelense, em ondas intercaladas de duas ou três salvas consecutivas, não é acidental.
Por um lado, essa estratégia visa desgastar a população. Basta observar as crianças de olhos inchados, arrancadas da cama várias vezes no meio da noite; os idosos, que com grande dificuldade descem repetidamente as escadas rumo aos abrigos.
Vale lembrar: a maioria das pessoas em Israel não possui um quarto de segurança (o “mamad”) dentro de casa. Elas dependem de abrigos coletivos – que, embora ofereçam mais proteção, são extremamente desconfortáveis.
Não se trata apenas de um fardo físico, mas de um peso emocional profundo e cumulativo. É uma guerra de atrito no sentido mais completo da palavra.
Por outro lado, essa tática iraniana também reflete as circunstâncias em que o Irã se encontra neste momento, após os ataques israelenses e os danos já causados aos seus locais de lançamento.
Não há dúvidas sobre a ameaça real que o Irã representa para Israel. E não há dúvidas de que era necessário – há muito tempo, na verdade – conter essa corrida armamentista insana, cujo objetivo declarado desde o início sempre foi a eliminação do Estado de Israel. É bom que estejamos finalmente enfrentando essa realidade, mesmo sem entrar aqui em análises sobre por que demoramos tanto; qual teria sido o valor estratégico em adiar essa decisão por tanto tempo; e que outros fatores – talvez não exclusivamente estratégicos – podem ter influenciado essa decisão atual, por mais correta que ela seja.
Só lembro a todos nós:
- A sociedade israelense está em guerra desde 7 de outubro de 2023 – já são mais de 20 meses. Vivemos um estado de trauma contínuo, nem sequer de pós-trauma. E ao longo desse período, há picos particularmente difíceis que apenas aprofundam o sofrimento coletivo.
- A sociedade israelense, que tem clamado pela libertação e pelo retorno imediato dos 53 reféns que ainda estão em Gaza – algo que já deveria ter acontecido há muito tempo – encontra-se agora, inevitavelmente, voltada para a própria sobrevivência, diante de uma ameaça iraniana concreta que bate – literal e fisicamente – à sua porta.
Mesmo com toda a compreensão diante das circunstâncias, essa realidade é profundamente preocupante, pois os reféns já foram empurrados para as margens da agenda política.
Dentro desse cenário complexo, não podemos nos permitir deixar de exigir sua libertação e de lembrar aos tomadores de decisão que essa deve continuar sendo uma prioridade. Também agora. O tempo todo.
- A sociedade israelense, que vem servindo na reserva por tanto tempo, está pagando um preço altíssimo – pessoal, emocional, familiar e econômico – com 300 ou até mais de 500 dias de serviço de reserva e combate, o que também custa sangue e vidas. E agora, diante das novas circunstâncias, tudo indica que isso só tende a se prolongar ainda mais.
Não à toa, a palavra mais buscada no Google nos últimos dias em Israel é justamente “resiliência”: resiliência porque ainda temos – e resiliência porque ela continua sendo testada e desgastada por novos desafios, repetidamente.
A história nos ensina que guerras longas raramente trazem resultados melhores – apenas um desgaste crescente, um custo humano altíssimo e uma erosão perigosa da legitimidade.
Eu só rezo para que saibamos também parar.
Eu só rezo para que nossa liderança se lembre de que guerras não terminam no campo de batalha – mas sim na mesa de decisões, no campo da diplomacia.
Eu só rezo para que nossa liderança saiba reconhecer o momento de parar – sem dar um passo além do necessário e sem causar custos humanos desnecessários e dolorosos – e saiba quando é hora de mudar para uma abordagem diplomática.
E, se não formos capazes de fazer isso sozinhos – que ao menos possamos permitir que nossa grande aliada o faça.
Eu só rezo para que esta guerra, com todas as suas frentes, não continue pelos motivos errados.
Porque o preço… Quem paga (e já está pagando) somos nós.
Não serão os tomadores de decisão que o pagarão – aqueles que, momentos antes do ataque inicial, já haviam sido transferidos para espaços protegidos, organizados e confortáveis. Enquanto isso, meu vizinho de 84 anos cambaleia com dificuldade e desce as escadas até o abrigo às 22h, depois às 1h, depois às 5h… E isso é só o começo.
Eu só rezo…
Esse texto não reflete necessariamente a opinião do Instituto Brasil-Israel.
(Foto: Reprodução/Twitter)