Os Samaritanos: a menor minoria na Terra Santa

Daniela Kresch

Especial para o IBI

TEL AVIV – Entre as numerosas minorias na Terra Santa, uma se destaca pelo tempo em que habita a região. Trata-se dos samaritanos (shomronim, em hebraico), uma pequena comunidade que se divide entre o vilarejo de Kiriat Zula (perto de Nablus, na Cisjordânia) e o bairro de Neve Pinchas, na cidade israelense de Holon (perto de Tel Aviv).

 Eles já chegaram a contabilizar mais de 1 milhão de fiéis, morando na Terra Santa adjacências. Mas isso foi há um milênio. Aos poucos, a diáspora samaritana desapareceu (a maioria se converteu ao islamismo). Os de Israel e Cisjordânia quase tiveram o mesmo destino. Em 1919, eles eram apenas 141 (61 mulheres e 80 homens). Em 1967, tinham “aumentado” para 147. Hoje, eles são exatos 788.

 Os samaritanos se consideram descendentes diretos de duas das 12 tribos de Israel: as de Menashe e Efraim. Teriam se tornado uma religião à parte, separada do judaísmo, no século IV A.C., depois da conquista da região por Nabucodonosor e do exílio forçado dos israelitas para a Babilônia, em 587 A.C.

 Eles aparecem no Novo Testamento como contemporâneo de Jesus Cristo. Segundo o Evangelho de Lucas, Jesus escolheu ilustrar o princípio da compaixão cristã ao próximo contando a história de um samaritano. Na parábola do “Bom Samaritano”, um dos fiéis cuidou das feridas de um desconhecido que havia sido atacado e assaltado no caminho de Jerusalém a Jericó.

 A passagem eternizou os samaritanos como um povo bondoso e prestativo. Mas, 2 mil anos depois do relato bíblico, os atuais samaritanos enfrentam obstáculos na luta contra a extinção de sua comunidade.

 A comunidade principal vive em Kiriat Zula, na Cisjordânia, perto do Monte Grizim, local mais sagrado para a fé samaritana. Enquanto judeus, cristãos e muçulmanos acreditam que foi no Monte Moriá, em Jerusalém, que Abraão quase sacrificou seu filho Isaac, os samaritanos acreditam que a passagem emblemática da Bíblia aconteceu no Monte Grizim, local onde o universo teria começada. Pela fé samaritana, foi no topo do Monte Grizim que Adão e Eva se encontraram e onde Noé construiu sua arca.


A aldeia samaritana de Kiriat Zula, na Cisjordânia (Crédito: Daniela Kresch)

 Por séculos, todos os samaritanos se concentraram nos arredores do Monte Grizim. Mas, depois da criação do Estado de Israel (1948), boa parte da comunidade migrou para Holon (perto de Tel Aviv) em busca de trabalho.

 Desde então, passaram os últimos 70 anos divididos em meio ao conflito entre israelenses e palestinos. Para os palestinos, eles são judeus. Para os israelenses, gentios. Na realidade, é complicado encontrar uma definição para a religião samaritana.

 Os samaritanos acreditam na Torá, os cinco primeiros livros do Velho Testamento (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Mas se diferem dos judeus ao ignorar os outros dois capítulos da Bíblia judaica (Profetas e Escritos). Eles também não seguem a tradição oral hebraica de livros como o Talmude e a Mishná.

 Eles prezam tradições dos primórdios do judaísmo, como a circuncisão de todos os bebê do sexo masculino, a Cashrut (lei alimentar) e o descanso no Shabat (o sábado sagrado). Mas não cultuam figuras emblemáticas, como os reis Davi e Salomão. Eles também têm um calendário próprio e comemoram só algumas festividades, como a Páscoa judaica, o Yom Kippur (Dia do Perdão) e Sucot (Festa dos Tabernáculos).


Integrantes da comunidade samaritana orem do Monte Grizim (Crédito: Ayalon Maggi)

 Nas datas sagradas, eles vestem tradicionais túnicas brancas e sobem o Monte Grizim. Na Páscoa, cada família sacrifica um cabrito em cerimônia considerada muito semelhante à praticada há mais de 2.500 anos na Terra Santa.

 Os samaritanos convivem bem com israelenses e palestinos e tentam não se intrometer no conflito entre os dois povos. Os de Holon têm cidadania israelense e servem ao exército israelense. Os da Cisjordânia tem carteira de identidade palestina, frequentam escolas locais e já tiveram até mesmo um membro no Parlamento palestino. Eles se veem como uma espécie de “ponte” entre judeus e árabes. Muitos falam árabe e hebraico.

 “Alguns palestinos pensam que somos judeus, enquanto alguns judeus acham que somos palestinos. De certa forma, somos os dois. Independentemente disso, somos amigos de todos. Embora haja menos de 1.000 de nós no mundo, acredito em meu coração que poderíamos trazer paz a toda esta região”, diz um dos líderes da comunidade, Mabrook Ishaq.

 Mas, apesar de todo o cuidado, os samaritanos lutam contra a extinção. Há 15 anos, os líderes tomaram uma decisão dramática de aceitar casamentos entre homens samaritanos e mulheres de outras religiões para evitar o fim dos samaritanos – que há séculos só casavam entre si, praticando a endogamia (procriação consanguínea entre membros da comunidade).

 Como há apenas cinco famílias na comunidade, os casamentos aconteciam entre primos de primeiro e segundo grau. Justamente por isso, havia um alto índice de anomalia entre os recém-nascidos (surdez, cegueira e deficiências mentais). Mas com o advento da ultrassonografia, mulheres grávidas passaram a realizar testes pré-natais e abortar (o que é permitido, pela religião) caso houvesse complicações genéticas com fetos frutos da endogamia.

 A queda da natalidade levou à diminuição quase fatal da comunidade. No começo dos anos 2000, 12 mulheres “estrangeiras” entraram no grupo, com a condição de que aceitassem praticar os estritos preceitos religiosos. Todas as novas samaritanas, anteriormente cristãs, vieram da Ucrânia. As estrangeiras passaram por um período de teste de seis meses antes de serem totalmente aceitas.

 “Essas mulheres viviam de uma área pobre e queriam ir para outro lugar. O povo samaritano vive mais confortavelmente do que essas mulheres estão acostumadas. Então, nosso sumo sacerdote passou um decreto que podemos casar com essas mulheres. Hoje, temos oito famílias com esposas ucranianas”, conta Mabrook Ishaq.

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