Ser vacinada, uma experiência pessoal em Israel

TEL AVIV – Tomei a primeira dose da vacina contra o coronavírus. Me tornei parte ativa da mais rápida e abrangente campanha de vacinação contra Covid-19 do mundo: a de Israel. E foi tão fácil e rápido que nem tive tempo de tirar muitas fotos. Reclamar na fila? Também não deu tempo porque não teve fila. Reclamar do preço? Nada disso porque foi de graça. 

Só não me vacinei antes porque a campanha de inoculação do país, que começou dia 20 de dezembro, só estava aberta para maiores de 60 anos e profissionais da saúdes (professores também estão sendo vacinados).  

Na verdade, conheço gente com menos de 60 anos que conseguiu se vacinar antes de mim, mas porque souberam de clínicas nas quais as vacinas estavam “sobrando”. Como se sabe, a vacina da Pfizer precisa estar congelada a -70c. Quando os frascos são descongelados, precisam ser usados em, no máximo, 3 dias. Algumas clínicas não conseguem usar tudo nesse tempo, então acabam chamando ou deixando que outras pessoas recebam a vacina antes de jogar as doses fora. Acredito que também houve alguns casos de desorganização nos quais gente que não deveria foi inoculada antes.

No meu caso, eu esperei que a vacinação fosse realmente aberta aos maiores de 50 anos (isso aconteceu finalmente na noite de terça-feira, 12 de janeiro). Como tenho 52, havia chegado a minha vez. Entrei no site do meu plano de saúde (aqui existem quatro planos de saúde paralelos gratuitos e todos os cidadãos têm o direito de se registrar em um deles). Marquei a minha vez para o dia seguinte.

Fui à clínica na hora marcada. Entrei num salão onde tinha várias divisórias com enfermeiras e procurei uma enfermeira livre. Ela me perguntou algumas perguntas básicas: se eu tinha alergia, alguma doença grave, algo assim. Eu respondi que não e ela me deu a vacina em um segundo.


Uma clínica em Israel onde as pessoas são vacinadas, com subdivisões e enfermeiras a postos (Crédito: Daniela Kresch)

Depois, eu tive que me sentar por 15 minutos em uma área aberta do lado de fora da clínica para ver se haveria alguma reação alérgica. Assim que acabou o tempo, me levantei e fui embora. Tudo isso levou 20 minutos, no máximo, incluindo os 15 que eu esperei do lado de fora. Foi tudo muito organizado, porque Israel sabe como fazer esse tipo de campanha.

Não senti dor alguma na hora. Só a noite que eu senti um pouco de “peso” no braço esquerdo. Mas nada demais e certamente é melhor do que adoecer com Covid-19. Ao que parece, depois da segunda dose é que há um pouco mais de efeito colateral. Alguns sentem dor de cabeça, dor muscular e cansaço. Mas tudo passa em um ou dois dias e é, na verdade, sinal de que o sistema imunológico está reagindo à vacina como deveria.

A dose que eu recebi foi da Pfizer. Ela é a que está sendo mais usada em Israel, mas também chegaram lotes da Moderna. Tudo foi negociado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que ligou pessoalmente para os donos dos laboratórios e pagou, ao que parece, um preço mais alto para receber logo e transformar Israel numa espécie de país-modelo para a vacinação. 

Israel está fazendo a maior campanha de vacinação do mundo. Cerca de 2 milhões de pessoas já receberam a primeira dose num país com 9,3 milhões de habitantes. É mais de 20%. E muitos (mais de 150 mil) já começaram a receber a segunda dose.

Como em qualquer lugar, aqui também tem pessoas que hesitam. Conheço algumas que acreditam em teorias conspiratórias, que acham que a vacina é “coisa da China”, que foi criada para “colocar chip nas pessoas”. Tem também as que dizem ser a favor, mas desconfiam da rapidez que a vacina foi desenvolvida (mesmo depois de muitas explicações sobre a urgência e união de pesquisadores de todo o mundo, que já tinham experiência em vírus do tipo Corona).  

Mas essas pessoas são minoria e, ao meu ver, estão cada vez diminuindo em número. O motivo é que, desde o começo, o governo tem feito uma campanha na mídia e redes sociais explicando tudo: de onde vem a vacina, como ela foi desenvolvida, etc. E os meios de comunicação o tempo todo explicam, fazem entrevistas com médicos e diretores de hospitais.

Fora isso, o primeiro-ministro tem falado em horário nobre aos cidadãos sobre o assunto. Ele foi o primeiro a receber a vacina, ao vivo, juntamente com o ministro da Saúde. 

Israel é um país que acredita muito em ciência, é a Startup Nation. Também tem os seus céticos e populações que duvidam ou ignoram mais, como os judeus ultraortodoxos e a minoria árabe-israelense, que costumam ser mais ariscos. Mas, mesmo essas minorias estão adotando a vacina.

Apesar do sucesso da inoculação em massa, os resultados ainda vão demorar para serem claros. Ainda é preciso vacinar mais de 60% da população ou um percentual parecido a esse. E todos precisam receber as duas doses. Só depois disso – quando o corpo realmente produz anticorpos para o coronavírus e está imunizado em um nível alto – é que veremos os resultados na queda dos números de infectados.

Só lembrando: ao mesmo tempo que ocorre essa vacinação em massa, Israel decretou um lockdown bem rigoroso no fim de dezembro porque os níveis de infecção e óbitos também estão no alto. Até lá, tem gente que tomou a primeira dose, se descuidou com as máscaras e as aglomerações porque achou que já estava imune e pegou o coronavírus. 

Ainda é preciso esperar até fevereiro ou março para ver se Israel, o “país-modelo” de vacinação em massa, vai se comportar. Mas muita gente já ousa estar otimista, acreditando que o pior já passou.

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