To Bibi or not to Bibi? O parlamento dará um passo histórico

Fonte: Tablet Magazine. Foto: Lior Mizrahi/Getty Images.

TEL AVIV – Quando os 120 membros do Knesset, o Parlamento israelense em Jerusalém, votarem o estabelecimento de um novo governo no país, algo programado para este domingo, dia 13 de junho, a resposta à pergunta que permeia a política israelense há uma década será respondida: “To Bibi or not to Bibi?”. A brincadeira com a famosa indagação de Hamlet na peça de Shakespeare (“To be or not to be”; “Ser ou não ser”) é fundamental para entender o evento que deve sacudir a política local. 

Por 12 anos consecutivos, Benjamin “Bibi” Netanyahu personificou o governo israelense. Mas sua soberba e ego enormes acabaram por derrubá-lo. Se o novo governo capitaneado pelo ultranacionalista Naftali Bennett, do partido Yemina (À Direita) realmente sair do papel no domingo (e tem gente que só vai acreditar vendo…), terá sido por obra do próprio Netanyahu – que mandou e desmandou da política israelense por tanto tempo que acabou cavando seu próprio poço, abrindo caminho para a estranha aliança costurada pelo centrista Yair Lapid, do Yesh Atid (Há Futuro).

O professor Guideon Rahat, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Hebraica de Jerusalém, explica esse paradoxo: “Muitas das coisas que aconteceram com Netanyahu são consequências não intencionais de seu próprio comportamento”. 

Por exemplo: Netanyahu concluiu que não podia criar um governo depois de três eleições sem o apoio dos partidos árabes porque havia alienado antigos aliados como Guideon Saar (Nova Esperança) e Avigdor Lieberman (Israel Nossa Casa). Então, antes da quarta eleição, em março deste ano, ele mudou de discurso. Ao invés de afirmar, como antes, que todos os partidos árabes são todos esquerdistas que querem eliminar Israel do mapa, ele os legitimou, especialmente o Ra’am (Lista Árabe Unida, de Mansour Abbas) para poder negociar com eles. O resultado é que Abbas se tornou um aliado legítimo também para o bloco anti-Bibi, que o acabou cooptando para seu lado. 

“Não apenas isso”, continua Rahat. “Depois do governo que ele estabeleceu com Benny Gantz (do partido de centro Azul e Branco), em abril de 2020, Netanyahu perdeu a confiança de todos. Isso porque ele quebrou os acordos com Gantz desde o primeiro dia. O resultado é que, na eleição seguinte, Naftali Bennett não acreditou quando ofereceu mundos e fundos ao Yemina para apoiar uma nova coalizão com Bibi no comando”.

Netanyahu usou tantos truques nos últimos 12 anos (ou mais: nos últimos 25 anos, desde seu primeiro mandato, em 1996), que se queimou diante de possíveis aliados. Só restaram os ultraortodoxos e os kahanistas ultramegadireitistas do partido Sionismo Religioso. O resultado é que seu partido, o Likud, já internalizou que vai mesmo para a oposição. 

Mesmo que o próprio Bibi ainda tente tirar algum coelho da cartola (e pode tirar, não duvido nada…), seus companheiros de partido já se dão por vencidos. Agora, eles só esperam ver o que a nova coalizão – essa colcha de retalhos de oito partidos que só têm em comum a ojeriza a Netanyahu – vai fazer. Esperam que Bennett e Lapid cometam algum erro e caiam. 

A  verdade é que a mudança de governo será uma incógnita e uma mudança nada fácil. Mas quem vai realmente sentir na pele são os parlamentares e apoiadores do Likud, que tinham a ilusão de continuar no poder para sempre com seu “King Bibi”. Esqueceram que o Likud quase acabou depois que o ex-premiê Ariel Sharon criou o partido de centro Kadima, em 2005. Nas eleições de 2006, o Likud recebeu apenas 12 cadeiras, 26 a menos do que as 38 das eleições anteriores, de 2003. 

Muitos diziam, na época, que era o fim do Likud, assim como disseram que seria o caso, agora, do Partido Trabalhista. Mas os trabalhistas conseguiram incríveis sete cadeiras sob a batuta da feminista Merav Michaeli.

Não sei o que os próximos dias e semanas trarão. Poucos ousam fazer previsões, por aqui. Também não corroboro com o entusiasmo do bloco anti-Bibi, que só queria mesmo ver Netanyahu – o polêmico populista indiciado em três casos de corrupção – fora do trono. Só que ter como primeiro-ministro Naftali Bennett, um político de extrema-direita, que apoia a anexação da Cisjordânia por Israel e é contrário à solução de “Dois Estados para dois povos”, pode ser trocar gato por lebre. 

Os mais otimistas dizem que, em Israel, só governos de direita conseguem amplo apoio popular para tomar decisões difíceis. E que Bennett pode se transformar num novo Ariel Sharon, mudando de posição quanto à presença israelense na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental (Sharon, um ex-gavião da direita, foi quem conseguiu retirar Israel da Faixa de Gaza, em 2005). 

Seja como for, o fim da era Bibi Netanyahu se aproxima. Há alguns dias, Bennett deu um recado claro a ele: “Abra mão, deixe que o país vá em frente. Pode haver um governo sem você”.

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