Israel vence o Brasil: o conto de fadas do Mundialito

Daniela Kresch e Anita Efraim

TEL AVIV – Foram 122 minutos de muita emoção. Israel fez o impossível: venceu o Brasil por 3 a 2 nas quartas de final da Copa do Mundo Sub-20, que acontece na Argentina. Israel se qualificou para as semifinais do “Mundialito”, o que os locutores chamaram de “sonho” e de “história de Cinderela”.

“Israel ganha do Brasil!”, gritou o locutor israelense do canal KAN 11, “Vocês vão contar isso para os seus netos! “Estamos numa história de cinderela, de ficção científica!”

“Está vendo o jogo? Não consigo respirar”, escreveu uma amiga minha israelense no WhatsApp.

O sonho transformou a seleção júnior de Israel numa das quatro melhores do mundo. Na próxima quinta-feira, 8 de junho, Israel vai enfrentar o Uruguai.

“Quem poderia acreditar, no começo do Mundialito, que isso aconteceria!”, disse um repórter esportivo na TV. Sem saber o quanto isso mexe na ferida dos brasileiros, aliás, ele chamou Dor Turgeman, o autor do terceiro gol, de “Diego Armando Turgeman”. A jogada que, na lógica, teria o brilho brasileiro, chamou atenção pela habilidade e ousadia – que poucos esperavam da seleção israelense.

“Impensável: Israel surpreendeu o Brasil e avançou às semifinais do Mundialito”, estampou o site de notícias YNET na manchete. “A jornada mágica dos azuis-brancos continuou, novamente de forma dramática e desta vez com grande sensação. Pode sonhar em levantar a taça”.

No Brasil, o sentimento foi de total decepção. Jogadores melhores, campeões do Sul-americano sub-20, um histórico de cinco títulos na competição. Mas o futebol não é só história, é o que acontece dentro das quatro linhas: em campo, o time de Israel foi mais organizado e, merecidamente, fez história.

Homenagens

Mas como sempre, quando se trata de Israel, a histórica vitória de Israel sobre o Brasil aconteceu num dia triste para o país. De manhã, um incidente na fronteira com o Egito deixou três soldados israelenses mortos, entre eles uma soldada de 19 anos.

Dor Turgeman, o autor do terceiro gol, disse, emocionado: “Dedicamos essa vitória às famílias dos mortos no atentado de hoje. Esperamos ter feito um pouco para alegrar a todos neste dia triste”. No pulso, ele usava um esparadrapo, com os nomes das três vítimas.

O treinador da Seleção de Israel, Ofir Chaim, também comentou o ataque aos soldados israelenses na fronteira com o Egito: “Esta vitória é por todos em Israel. Queremos unir o país”.

As palavras do treinador têm a ver, também, com a própria formação do time de Israel. Judeus e árabes jogam juntos, em harmonia. Nas oitavas de final, quando o centroavante Anan Khalaili fez o gol aos 97 minutos, o narrador israelense perdeu a voz de tanto gritar. Khalaili, de 18 anos, é um árabe-muçulmano da cidade mista Haifa, onde joga pelo Maccabi Haifa.

“Isso é prova de como judeus e árabes podem alcançar tanto juntos”, disse o presidente de Israel, Isaac Herzog, no telefonema de parabéns ao treinador Ofir Chaim. “Foi muito emocionante, parabéns!”

O paradoxo da harmonia entre judeus e muçulmanos no mesmo time fica ainda mais forte quando lembramos que o Mundial sub-20 deveria ter acontecido na Indonésia, país de maioria muçulmana. Eles se recusaram a receber Israel e, por isso, o torneio foi transferido para a Argentina.

Diante do sucesso do time, o fato de que alguns dos jogadores não cantarem o hino nacional de Israel no começo dos jogos internacionais pode incomodar menos. Anan Khalaili e Hamza Shibli (outro jogador árabe-israelense do Maccabi Haifa), autores dos dois primeiros gols de Israel contra o Brasil, são alguns deles.

O fenômeno de atletas que não se sentem representados por seus países não é apenas israelense. Quantos atletas americanos baixaram a cabeça ou fizeram gestos de protesto contra os EUA em estádios?

No caso de Israel, a questão dos símbolos nacionais é, no entanto, algo complexo. Muitos árabes-israelenses consideram injusto que a bandeira e o hino do país se refiram apenas aos judeus do país, que são, sim, maioria (74% do país), mas não são todos. Afinal, um em cada quatro israelenses não é judeu.

Como em muitos países do mundo, o esporte e a cultura são alguns dos caminhos que pessoas desfavorecidas encontram para se destacar. Isso acontece no Brasil, claro, bem como em toda a América Latina. No caso de Israel, muitos jovens da minoria árabe veem no futebol o sonho da fama, de uma carreira que posso elevá-los a patamares que não conseguiriam alcançar seguindo o caminho da “meritocracia” da sociedade israelense.

O futebol simboliza, então, a esperança da convivência, a prova de que é possível alcançar os céus quando judeus e árabes enfrentam desafios juntos. Mas, ao mesmo tempo, o futebol mostra que Israel ainda precisa trilhar um longo caminho para que jovens árabes se sintam representados e expostos às mesmas condições de um futuro em seu próprio país.

Após passar pelo Brasil, Israel sonha em vencer o Mundial Sub-20. Pode acontecer… Quem sabe? Assim como Israel pode alcançar o que quiser, se seus cidadãos judeus e árabes trabalharem juntos.

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