Por que parte da esquerda mundial virou as costas para Israel?

PODCAST “OD YOM” (MAIS UM DIA), do canal israelense (de TV e rádio) Kan 11.

Programa de 26 de outubro de 2023

(Tradução: Daniela Kresch)

A maior parte do mundo Ocidental ficou do lado de Israel após o ataque de 7 de outubro, mas parte da esquerda nos EUA e na Europa recusaram-se a condenar o Hamas e foram rápidas em criticar Israel. Nos EUA, há uma verdadeira cisão entre as comunidades judaicas e aqueles que até recentemente eram seus parceiros em muitas lutas. Tamar Almog conversou com Rami Hod, diretor-executivo do Centro Berl Katznelson, para ouvir dele sobre os processos que levaram a isso e se é possível mudar a tendência.

TAMAR ALMOG – Rami Hod é uma voz proeminente na esquerda israelense, a esquerda sionista. Ele nos explica o que aconteceu aos seus parceiros ideológicos na esquerda global e como ainda é possível lidar com isso. Rami, você está em uma situação semelhante a que muitos judeus dos EUA se encontram. Você olha, procura seus parceiros ideológicos e descobre que não está, agora, no mesmo campo deles.

RAMI HOD – Sim, é verdade. Por exemplo, nós, da Fundação, publicamos há alguns meses um livro escrito pelo ex-ministro das Finanças da Grécia, uma das figuras mais conhecidas da esquerda global, chamado Yanis Varoufakis, um líder socialista no Parlamento Europeu. Publicamos um livro dele em hebraico e, de repente, com a eclosão da guerra, não vimos uma posição dele com uma crítica a Israel, o que é uma coisa completamente legítima (afinal, nós, esquerdistas sionistas, também temos críticas o tempo todo). O que vimos é ele literalmente dizendo que Israel está fazendo genocídio. Vimos que ele não chama o Hamas de terrorista.

Não se trata de alguém como Jeremy Corbyn, ex-presidente do Partido Trabalhista britânico, que sempre teve posições anti-israelenses e antissemitas. Não. É uma nova voz. Há novas vozes que não se expressavam antes em relação a Israel e com as quais compartilhávamos posições sobre questões de direitos dos trabalhadores, de gênero, aquecimento global, e que nos identificamos com eles. Acreditávamos ser seus aliados. De repente, vemos que a identidade anti-Israel se tornou parte da identidade de esquerda radical. Este é definitivamente um fenômeno muito, muito, muito preocupante e negativo, aos meus olhos.

TAMAR ALMOG – Como esse fenômeno aconteceu?

RAMI HOD – Penso que é importante, antes de mais nada, dizer que estas são ainda partes marginais da esquerda. Como se sabe, nos Estados Unidos, a posição liberal do J Street ainda é muito próxima das de Biden, e essa é a posição dominante. Dito isso, acho que existem três coisas que podem ser explicar.

1) EDUCAÇÃO ACADÊMICA – Deve-se dizer que existe uma educação acadêmica e política distorcida de partes da geração mais jovem, de pessoas que se consideram de esquerda. Na verdade, há aqui uma tentativa de adotar tipos de padrões de pensamento que se encaixam em outros conflitos no mundo. Eles fazem “copiar e colar” desses padrões para cá. Isto é, a atitude em relação a Israel e aos palestinos é a mesma dos franceses na Argélia. Nós somos os brancos, os palestinos, os negros. Embora exista uma fronteira internacional reconhecida e mesmo que haja aqui um conflito entre dois movimentos nacionais e não há nada de colonialismo, parte da esquerda radical no mundo pega nos padrões de pensamento que conhece em relação a outros conflitos e simplesmente faz um “copiar e colar” deles.

Portanto, o Hamas não é chamado de terrorista, mas sim de um movimento de libertação. Esta é uma posição maluca. Esta é uma posição que não pode ser tolerada. Mas parte da razão pela qual chegamos nesse ponto deve-se à fraca educação acadêmica e política.

2) PARTIDOS POPULISTAS – A segunda razão que quero salientar e que considero importante focar não está relacionada especificamente a Israel. Estamos assistindo o fortalecimento de partidos populistas marginais, de esquerda e de direita, na Europa. Isso não acontece por causa de Israel, acontece por causa da oposição à imigração para a Europa e à oposição à União Europeia, mas acaba respingando em Israel.

Isto é, se num país como a França, o histórico partido social-democrata criticava Israel, mas era possível chamá-lo de pró-Israel – no sentido de que apoiava o direito de Israel existir e o direito de lutar contra terrorismo, além da solução de dois Estados, com um Estado judeu e democrático ao lado de um Estado palestino. Hoje, o líder da esquerda francesa é um cara chamado Melenchon, que está à esquerda do partido social-democrata clássico e faz parte da onda da esquerda anti-Israel que se recusa a classificar o Hamas como uma organização terrorista.

Ou seja, o declínio dos grandes partidos de esquerda, com os quais o Partido Trabalhista de Israel também se identificava, e o fortalecimento dos partidos marginais dos partidos marginais é outra razão.

3) DIREITA ISRAELENSE – A terceira razão que gostaria de mencionar é a nossa responsabilidade. Não temos toda a responsabilidade pelo que está acontecendo, mas temos parte. Israel está indo para a direita e isso influencia. Ou seja, deve-se dizer que sempre houve uma onda que é antissionista, que é anti-israelense, que se opõe à própria ideia de um Estado judeu, mas o seu alcance hoje é muito maior do que nos anos 90 e 2000, quando Israel, como governo, como país, buscava acordos de paz e soluções políticas.

Não estou dizendo que toda a responsabilidade é nossa, claro que há também os dois primeiros motivos que mencionei, mas acho que o fortalecimento da direita e, recentemente, da extrema-direita em Israel é muito, muito significativo. Este governo é o melhor exemplo disso.

TAMAR ALMOG – Mas pode-se ver isso de forma contrária. Os israelenses, que vivem e conhecem os nossos vizinhos, internalizaram primeiro que o terrorismo do Hamas não tem a ver com a questão da ocupação, mas os mais esclarecidos e liberais do mundo não querem aceitar que estavam errados, então tentam dar justificativas para isso…

RAMI HOD – Concordo com você e penso que a noção de que é antissionista quem vê Israel como um projeto colonial estrangeiro na região. Mas penso que, se olharmos para as tendências históricas, há uma mudança significativa aqui. Israel, durante a era Rabin e Barak, ou Olmert, tinha um projeto chamado “projeto de paz”. E era bastante claro que, sob certas condições, com medidas de segurança e com a preservação da identidade judaica, eles também estavam dispostos a desocupar territórios e ir para um lugar de compromissos políticos, o que faz parte do projeto internacional liberal que um jovem judeu americano ou europeu de 23 anos pode se identificar.

Acho que parte disto é nossa responsabilidade. O atual governo se manifestou até contra o J Street, percebendo qualquer crítica à política de Israel como antissionista, como antissemitismo. Assim não venceremos esta onda. Derrotaremos esta onda – e este é um ponto que é muito importante para mim – unindo forças com as forças liberais dos Estados Unidos e da Europa que podem até se opor às políticas de governos israelenses, mas que apoiam plenamente o direito de Israel de combater o terrorismo.

Precisamos investir nos jovens liberais nos Estados Unidos e na Europa, este é o investimento mais importante em termos das relações externas de longo prazo de Israel. Mas os governos israelenses negligenciaram este segmento. É impossível prestar atenção apenas nos conservadores, apenas na direita e a extrema direita, abandonando completamente o diálogo com estes grupos de esquerda e esperar que, quando haja uma guerra, eles estejam do nosso lado.

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