Como o “Expresso da meia-noite”: os horrores do cativeiro em Gaza

Daniela Kresch

TEL AVIV – Com a libertação de primeiros 60 reféns israelenses pelo cruel e horrendo grupo terrorista palestino Hamas – entre eles praticamente só crianças, suas mães e mulheres idosas -, alguns detalhes sobre o cativeiro começam a ser divulgados. Histórias terríveis e impressionantes e que são, provavelmente, apenas a ponta do iceberg. 

Quem viu imagens das crianças entrando ou saindo dos caminhões da Cruz Vermelha ficou com a impressão de que elas estavam ótimas. O Hamas encenou o retorno dos reféns como se os tivessem tratado maravilhosamente bem: cabelos penteados, todos calados, andando devagar em meio a terroristas armados com rostos cobertos por máscaras. Havia muitas câmeras na produção midiática do Hamas. Lembra os filmes dos nazistas em Theresienstadt, o campo de concentração “modelo” para inglês ver.

Mas, nada é mais distante da realidade. As crianças voltaram magras e pálidas, com problemas motores por falta de exercício e sensibilidade nos olhos por terem ficado quase dois meses sem ver a luz do sol. Mas as sequelas físicas podem ser tratadas rapidamente, diferentemente das psicológicas, que podem ficar para sempre.

Todos sabem que não se deve forçar ou esperar que os reféns libertados – principalmente crianças – a falar nada. Os adultos, sim, serão entrevistados pela inteligência para tentar colher informações que possam ajudar no resgate, talvez à força, dos outros mais de 150 reféns que continuam no cativeiro. Mas essas entrevistas são, claro, confidenciais. 

Até hoje, por exemplo, sabemos pouco sobre o que passou o ex-soldado Guilad Shalit nos 5 anos que ficou no cativeiro do Hamas (2006-2011). Ele voltou para casa, um rapaz já bem franzino e tímido, e nunca mais foi visto (a não ser raras informações e fotos esporádicas). Ele nunca deu uma entrevista – coletiva ou não -, nunca escreveu um livro ou deu uma palestra. E, apesar de toda a curiosidade nacional, os israelenses entenderam e nunca o pressionaram.

No caso dos novos reféns libertados, alguns detalhes começam a sair, mas não muitos. Os jornalistas tentam saber mais, mas os parentes deles falam pouco. Os próprios também não falam muito. A ex-refém Shoshan Haran, uma das maiores ativistas de direitos humanos do país que foi libertada na sexta-feira, dia 24 de outubro, se encontrou com o presidente de Israel, Isaac Herzog, e pediu esforços para a liberação dos outros raptados. Mas não disse nada sobre como foram os 50 dias em que ficou nas mãos do Hamas.

Uma das primeiras histórias é a de Eitan Yahalomi, de 12 anos. A tia dele, Deborah Cohen, contou alguns detalhes do que ele compartilhou ao voltar, no dia 27 de outubro. Ela disse que Eitan chegou em Gaza e foi imediatamente chutado e espancado por civis palestinos. Depois, foi levado a um local onde ficou sozinho por 16 dias, dormindo no chão e comendo pouco. Só depois, foi levado a outro lugar onde havia outros reféns, alguns conhecidos dele. Lá, os terroristas o obrigaram, juntamente com outras crianças, a assistir vídeos com algumas imagens terríveis do ataque de 7 de outubro. Quem chorava era ameaçado com uma arma.

Outros detalhes foram passados por Thomas Hand, pai da menina Emily, de 9 anos. Ambos têm cidadania irlandesa, além da israelense. Thomas contou à CNN que Emily voltou mais magra, pálida e apática. Ficou com tanta fome que aprendeu a comer pão com azeite. Ela só sussurrava, porque dizia que, no cativeiro, crianças não podiam falar. 

Outro relato é o de israelense de 25 anos, nascido na Rússia, chamado Roni Kriboi. Ele foi o único homem com mais de 17 anos libertado até agora, por pressão pessoal do presidente russo Vladimir Putin. Kriboi contou que foi mantido em cativeiro sozinho, mas que conseguiu fugir depois que o prédio onde estava foi atingido em um ataque aéreo israelense. Ficou quatro dias escondido, sozinho. Mas, assim que foi encontrado por civis de Gaza, foi entregue de volta aos terroristas do Hamas por eles.

Erez Calderón, 12 anos, e a irmã Saar, 16 anos, também foram libertados. Foram separados do pai, Ohad, que ficou no cativeiro. Eles não contam muita coisa, mas a família ficou chocada com a magreza dos dois. 

Não sei se foi Saar que contou uma das histórias mais incríveis do sequestro brutal. Uma das jovens reféns disse que, nos primeiros dias após o rapto, um homem barbado entrou no quarto onde eles estavam e começou a falar em hebraico perfeito. Se apresentou como ninguém menos do que Yahya Sinwar, o principal líder do Hamas ainda vivo em Gaza agora. Sinwar é considerado o terrorista-mor do Hamas, que planejou e organizou o ataque terrorista de 7 de outubro. Segundo a refém, Sinwar disse aos sequestrados que eles estavam “seguros” e que “nada aconteceria com eles”. 

Há vários outros relatos, como o de Elma Avraham, de 84 anos, que teve que ser internada em estado grave em um hospital de Israel assim que foi libertada. Foi colocada num ventilador porque não conseguia respirar muito bem por conta própria. A filha de Elma disse que a mãe precisava de remédios e que os entregou para a Cruz Vermelha Internacional. Mas a mãe nunca recebeu as drogas e sua situação de saúde se deteriorou.

O show de horrores desses relatos está só começando. Aos poucos, vamos saber de casos terríveis, assim como os dos mais de 1.200 mortos e 5.000 feridos em 7 de outubro.

Foto: Flickr/IDF

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