Como está o cidadão israelense? Depende a quem você perguntar

Revital Poleg

Se você perguntar hoje a um cidadão israelense “comum” se está tudo bem ou como está a situação, verá que ele terá dificuldade em responder de forma “padrão” a essa pergunta quase automática, feita praticamente em toda interação interpessoal. Muitos na sociedade israelense, especialmente aqueles que estão em situação relativamente mais favorável (ou seja, que não fazem parte do círculo de vítimas do Hamas ou da guerra subsequente, ou que ou que nem eles nem seus familiares participam dos combates nas várias frentes), vão responder, diferentemente do habitual, dizendo que “está tudo bem comigo, mas a situação não está boa”.

De fato, o sentimento predominante entre os israelenses é de que a situação não é boa. O povo de Israel tem vasta experiência em guerras e eventos de segurança, mas nunca antes enfrentamos uma guerra tão prolongada, iniciada sob circunstâncias tão terríveis,  por um inimigo tão cruel e com resultados tão desastrosos. A incerteza sobre o futuro é grande. Paralelamente a essa percepção nebulosa, que de forma alguma beneficia o espírito de nenhum cidadão e setoriais também estão se agravando.

O Índice da Voz Israelense do final de janeiro de 2024, conduzido pelo Viterbi Center for Public Opinion and Policy Research, do Israel Democracy Institute, publicado nestes dias, reflete claramente esse baixo estado de ânimo nacional. Apenas 39% do público se sente otimista quanto ao estado da segurança nacional, e apenas 41% se sente otimista em relação ao futuro do regime democrático. Desde outubro de 2023, data do ataque do Hamas e do início da guerra que se seguiu, quase não houve mudança no grau de falta de otimismo do público em relação à segurança nacional e ao futuro do regime democrático em Israel, o que reflete um ânimo nacional bastante baixo em dois indicadores-chave de nossa vida, que persistem por um período longo demais.

Neste contexto, a esquerda e o centro israelenses são os menos otimistas entre os entrevistados em relação a esses dois parâmetros: a taxa de otimistas da esquerda em relação ao futuro do regime democrático é de 26%, e a do centro é de 34%, enquanto na direita o otimismo atinge 57%. O quadro também é bastante semelhante no que diz respeito ao futuro da segurança nacional: na esquerda, apenas 34% manifestam otimismo, no centro – 37,5%, e na direita – 47%.

Uma queda significativa foi observada na pergunta da pesquisa sobre o grau de sucesso do estado em proteger a segurança de seus cidadãos. Dado o fracasso do dia  7 de outubro, o resultado não é surpreendente, embora seja importante notar o quanto diminuiu: apenas uma minoria dos entrevistados (39%) acredita que o estado é capaz de garantir  nossa segurança. Esse índice é consideravelmente menor do que os resultados das pesquisas realizadas entre os anos de 2019-2021, quando a maioria (76% em 2021 e 63% em 2019) estimava  que Israel conseguia manter seus cidadãos seguros. A percepção da segurança, que sempre foi um dos pilares da sociedade israelense, é, sem dúvida, uma das grandes vítimas da atual realidade e exige a atenção dos líderes políticos. Mas, será que eles são capazes de reparar essa fratura? A resposta é muito complexa. No momento, provavelmente é não.

Outra questão importante diz respeito aos objetivos da guerra. As alegações de que há uma contradição entre os dois objetivos da guerra — derrotar o Hamas e resgatar os sequestrados — estão se tornando cada vez mais fortes. Qual desses dois objetivos deve ser o principal foco de Israel atualmente? Cerca de metade (51%) de todos os entrevistados acredita que o retorno dos sequestrados deve ser o principal objetivo, enquanto apenas um terço (36%) que derrotar o Hamas deve ser o objetivo principal (13% não souberam responder).

A diferença nas respostas a essa pergunta entre judeus e árabes é grande: entre os judeus, há uma diferença relativamente modesta entre aqueles que apontam o retorno dos sequestrados como o objetivo principal e aqueles que veem a destruição do Hamas a meta mais importante. (respectivamente 47% e 42%). Por outro lado, entre os árabes entrevistados, há uma clara maioria (69%) a favor do retorno dos sequestrados e apenas uma pequena minoria (8%) apoia a dissolução do Hamas.

A controvérsia pública sobre essa questão se agrava ao analisar as respostas com base na votação das últimas eleições. Uma grande maioria dos eleitores dos partidos árabes, bem como entre os eleitores do Partido Trabalhista, Yesh Atid (Lapid) e do Unidade Nacional (Gantz) – considerados representantes do centro e da esquerda, acredita que o objetivo principal deve ser o retorno dos sequestrados. Por outro lado, a derrota do Hamas é a preferência clara dos outros partidos que estão no  espectro entre a direita e a extrema direita.

Outra diferença interessante nas respostas é o componente de gênero entre os judeus: enquanto entre os homens, pouco mais da metade votou pela derrota do Hamas como o principal objetivo, comparado a 40% que escolheram o retorno dos sequestrados, entre as mulheres que votaram, a situação é a oposta – 53% estimam que o principal objetivo deveria ser o retorno dos sequestrados.

E quanto ao momento preferido para as próximas eleições? Entre todos os entrevistados judeus, a resposta comum é que as eleições deveriam ser realizadas ao final da guerra. No entanto, segmentar a amostra judaica por campos políticos, revelam-se grandes lacunas: 71% da esquerda querem anunciar imediatamente eleições e realizá-las dentro de três meses (semelhante ao total dos respondentes árabes), assim como 42% do centro, mas apenas 11% da direita. Esses números correlacionam-se totalmente com a confiança decrescente que o governo de Netanyahu vem recebendo mais do que nunca desde o ataque do Hamas, e nas manifestações que pedem eleições imediatas e a substituição do governo de Netanyahu, que voltaram a fazer parte da paisagem pública em Israel.

O público em Israel está vivendo atualmente uma “rotina de guerra”. A combinação de alta ansiedade, dano ao senso de segurança e falta de confiança na liderança política é definitivamente preocupante e superior a todos os eventos de segurança e guerras anteriores que Israel conheceu. Uma das ações que poderia melhorar a situação é uma definição clara do “dia seguinte”. A incerteza com que os cidadãos israelenses vivem atualmente não é resultado apenas da situação complexa existente, mas também, em grande medida, da ausência de decisões em relação ao futuro desejado. Tal visão poderia servir como uma âncora para os cidadãos se agarrarem e esperarem. A falta de decisão é uma decisão política em si e é uma jogada estratégica conscientemente feita pela liderança, por razões que nem sempre são substanciais. Aqueles que pagam o preço são os cidadãos, cujo humor pessoal e nacional está baixo há muito tempo, enquanto eles merecem considerações diferentes!

Foto: Reprodução/Ami Dror

ARTIGOS

Inscreva-se na newsletter

MENU

CONHEÇA NOSSAS REGRAS DE
LGPD E CONDUTA ÉTICA

© Copyright 2021 | Todos os direitos reservados.
O conteúdo do site do IBI não reflete necessariamente a opinião da organização. Não nos responsabilizamos
por materiais que não são de nossa autoria.
IBI – Instituto Brasil-Israel
SP – Sao Paulo